Zumbi, mais que ação, um ideal

Antes de tratar do quadrinho que eu li, o Zumbi em ação do Fernando Gomes, é necessário que eu faça uma pequena introdução. Zumbi dos Palmares é o personagem histórico mais comentado do país ultimamente. Não digo isso apenas por estarmos no Novembro Negro — utilizado pela publicidade a exaustão —, mas sim pelos debates históricos acerca desse homem.

Para os pensadores... quero dizer, pseudointelectuais da extrema-direita, Zumbi, o mesmo que libertava negros da escravidão, possuía ele próprio escravos!? Nada disso tem o mínimo de fundamento historiográfico. Nenhuma fonte até hoje fez esse tipo de comprovação. Se houve negros e pardos que possuíram escravos, ou Estados africanos que se serviram do escravismo, isso não deve ser usado para legitimar o racismo atual.

As ilações e especulações esvaziadas de historicidade, ou melhor, contexto histórico, distanciam esse homem negro do seu tempo e do espaço. Mas porque tornar logo Zumbi o vilão do regime escravocrata? Simples, para produzir misologia, pulverizar ignorância, legitimar o racismo produzindo a falsa ideia de que aquele que libertou seus iguais era um oportunista.

Quando li o mangá do Fernando Gomes, assim o chamo devido sua estrutura narrativa, vi a oportunidade das pessoas se interessarem um pouco por essa história tão maculada por ideologias vãs. O quadrinho toma algumas liberdades poéticas, algo plausível, visto que o autor produziu uma ficção com elementos históricos, e não apresentou uma tese de Doutorado em História do Brasil Colônia.

Em Zumbi em ação, o nosso protagonista nasce em 1655 no Quilombo de Palmares, atual Alagoas. O filho de Dona Sabina cresceu um garoto levado, e ainda criança, acabou sendo capturado por um soldado após Zumbi jogar frutas nele. Há meio caminho ele acaba sendo resgatado por um tal Capitão Francisco. Se tornando seu tutor, o militar o leva para uma igreja em Porto Calvo, sendo batizado e educado lá.

Depois de anos treinando esgrima com Francisco, Zumbi, agora bem mais velho, se junta ao seu mestre Capitão Francisco e luta contra bandoleiros pelas vilas e arraiais. Depois disso a história segue um ritmo mais rápido. Nos parece que o autor queria lançar algum panorama da vida desse herói nacional. A obra em one-shot se desenvolve como um longo flashback pelas mais de 30 páginas.

A obra colorida ressaltou os grupos étnicos-raciais em conflito, bem como os mestiços. O desenho tem cara influência de mangá, mais pela sua estrutura narrativa do que pelos traços. De maneira resumida, a história traça a ascensão e queda de Zumbi como líder do Quilombo de Palmares. E mais que o traço em desenvolvimento, o que mais me incomodou foi o papel que Zumbi adquiriu na obra.

Zumbi, embora protagonista, é um personagem mais passivo. Não estou cobrando fidelidade histórica do autor, talvez ele meso não tenha se aprofundado muito na história desse líder negro, mas, o Capitão Francisco como “sensei” de Zumbi ficou pouco crível e acabou atrelando a luta do personagem principal a motivações banais, infundadas até. Não achei crível. Não foi tão estimulante quanto sua luta pela liberdade.

Ao longo da história o foco muda, mas o quadrinho é tão curto que isso acaba despercebido. O autor lançou outras obras, e Zumbi e Palmares são revisitados mais uma vez. O designer dos personagens é bacana, e mesmo adultos, nos remetem ao shonen de lutas. As lutas, mesmo não sendo o foco, são mal coreografadas e não dão o impacto necessário.

Apesar dos impasses da obra, se você gostaria de ver Zumbi dos Palmares numa roupagem moderna e fantástica, adquira o seu exemplar. Talvez o maior destaque dessa obra seja despertar a curiosidade do leitor para acompanhar a trajetória desse homem que tanto contribuiu para a liberdade de homens e mulheres negras oprimidos pelo regime escravocrata português e brasileiro.

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Caliel Alves
Enviado por Caliel Alves em 19/11/2020
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