Curso de Apologética Cristã: imortalidade da alma

CURSO DE APOLOGÉTICA CRISTÃ: IMORTALIDADE DA ALMA

Miguel Carqueija

 

Resenha do tratado “Curso de Apologética Cristã”, pelo Padre W.Devivier S.J. Companhia Melhoramentos de São Paulo (depois Edições Melhoramentos), sem data. Tradução: Padre Manoel Martins S.J. Subtítulo: “Exposição racional dos fundamentos da Fé”. Texto de apresentação pelo Cardeal Patriarca de Veneza, José Sarto (depois Papa Pio X), Dom Sebastião Leme (arcebispo-coadjutor do Rio de Janeiro, depois cardeal) e carta-prefácio do Padre Luiz Gonzaga cabral S.J.

 

No artigo 3 do capítulo 2 de seu valioso tratado, o Padre Devivier S.J. fala da imortalidade da alma humana, depois de demonstrar sua espiritualidade e liberdade.

Com seu estilo metódico que até lembra São Tomás de Aquino, Devivier observa, com lógica impecável, que a alma é naturalmente imortal por ser de natureza espiritual — o que já foi demonstrado anteriormente.

“De fato ele (o ser espiritual) não tem em si princípio algum de corrupção ou de dissolução; pois que, não sendo composto de partes, não pode desagregar-se nem dissolver-se ou morrer.”

Esclarece o autor que imortalidade não é eternidade, porque no primeiro caso houve um começo, embora não haja fim.

Assim sendo nada pode aniquilar a alma: força alguma da natureza, que não pode aniquilar sequer a própria matéria. Deus também não elimina as almas, porque isto iria repugnar a sua Sabedoria: criar uma alma por natureza imortal para em seguida eliminá-la.

Devivier apresenta ainda a prova da propensão à felicidade: “O homem por natureza aspira a uma felicidade perfeita; logo está destinado a lográ-lo; ora a felicidade perfeita supõe a imortalidade; logo o homem é imortal”.

“Não pode ser uma quimera esta propensão irresistível da natureza humana; pelo que, afoitamente podemos formular o seguinte dilema: ou falharam a Sabedoria e Bondade de Deus, ou o homem está realmente destinado a fruir uma felicidade perfeita.”

Devivier lembra que a lei moral, para ser eficaz, exige a imortalidade. E quem poderia negar que a vida mortal, na Terra, é cheia de injustiças?

Quanto à teoria (abraçada por exemplo, lembro eu, por adventistas e testemunhas de Jeová) de que os maus serão destruídos, responde o tratadista que renunciar uma pessoa à felicidade eterna não muda a natureza da alma. Sobre o medo da morte, o autor justifica com sensatez que o composto alma e corpo não pode ser rompido sem uma natural repugnância. E que as pessoas iluminadas pela fé e confiantes na misericórdia divina acolhem a morte com serenidade.

 

Rio de Janeiro, 7 de setembro de 2021.