Medo num punhado de pó OU Impressões a respeito da série "A TORRE NEGRA" de Stephen King

Desde o ano passado venho lentamente acompanhando as aventuras dos "pistoleiros" Roland, Eddie, Susannah e Jake, personagens principais dos 3 primeiros livros da série "A Torre Negra" de Stephen King. Confesso que foi também lento o processo de sedução intelectual que a história me legou, comparável somente ao lento amadurecimento da obra e das idéias deste (hoje chamo genial) escritor americano.

Como em seus livros mais antigos e de sucesso inquestionável (que geraram filmes tão famosos como inferiores aos livros originais), "O Pistoleiro" (ATN vol. I) é um bem traçado emaranhado de aventuras absolutamente sem sentido, permeadas por um fio condutor invisível que só se enxerga ao final, conectando os elos perdidos e levantando novas questões. Ka.

Comprei o segundo por mera insistência ("A Escolha dos Três" - ATN vol. II), e pego desprevenido por um interesse cada vez maior em "lagostrosidades" e outas esquisitices, fui dando conta da armadilha preparada por um texto à primeira vista verborrágico e recheado de citações excessivas e desconexas. Estava fisgado. Ka-Tet.

Acabo de ler "As Terras Devastadas" (ATN vol. III) e me sinto à vontade no "Mundo Médio" como um dia na Terra Média de Tolkien. Mas não aquela do "Senhor dos Anéis", coroação bem sucedida de uma obra de vida que mais parece uma obsessão (no sentido mais puro da palavra: obra de um "possuído", se é que se pode falar assim de Mr. Tolkien, PhD em Filologia, católico ultra-conservador e historiador/folclorista nas "horas vagas"), e sim aquela que se espraia como um real mundo novo somente aos que leram também "O Hobbit", os "Contos Inacabados" e principalmente o "Silmarillion". Stephen King chega lá, e este é o ponto. Chega lá como tem chegado há anos, em histórias maravilhosamente executadas como "The Green Mile", a anos-luz de distância do escritor de "terror" que um dia foi. Se é tão bom quanto Tolkien? Creio que não. Mas é o mais próximo que eu imagino alguém conseguir chegar disso.

"As Terras Devastadas" são o momento de equilíbrio da história até agora (e não, eu não vou comprar os originais em inglês ou baixá-los pela web para os ler logo: curtirei a espera com prazer, enquanto os neurônios encharcados de loucura e poesia peneiram e sedimentam a experiência). Se "Childe Roland à Torre Negra chegou", como diz o poema de Robert Browning que inspirou a série, é neste livro que nós chegamos lá, viajamos com Roland e seus amigos por caminhos desconhecidos, sentimos medo e tensão e uma curiosidade infinda, a mesma que os move em direção à Torre como Frodo e Sam à Mordor. Khef.

Renato van Wilpe Bach
Enviado por Renato van Wilpe Bach em 09/12/2005
Código do texto: T83215