"The Secret / O Segredo", Rhonda Byrne, Ediouro, 2007

Um livro, pra vender, tem que parecer.

Um livro, pra parecer bonito, tem que ser bonito. Inteligente nos temas e caligrafias, ultra-respeitoso com os colaboradores, “dedicado a você”, antecedido por uma epígrafe pós-moderna (mas escrita há 5000 anos), com trajetória personalista mas sem muita profundidade, por favor.

Um livro, pra (a)parecer tem que vender bonito. Coisa que “The Secret / O Segredo” fez.

A incrível trajetória do livro, feito para vender por gente que sabe vender, é ainda mais sensacional do que a série de entrevistas e depoimentos de personalidades poderia prever. Leia, veja (o filme), assine os “papiros secretos” (orações de Rhonda “dedicadas”... hummm... “a você”) e depois assista a Santa Missa em Medjugorje. Não? Oops, me enganei.

Bem, se não é seita, o pensamento é uniforme e rasteiro, uma espécie de primo pobre do roteiro de “Forrest Gump” – só que para idiotas.

Temos Rhonda, a xamã, como personagem principal, “recebendo” de graça - afinal, o “como não importa” - “os segredos e as leis do universo”, em um dia de primavera. Logo depois, “sua vida foi transformada, e ela começou a por em prática tudo o que ela aprendeu”. Resolveu fazer um filme, afinal, era escritora e produtora da tevê australiana. Quando estava para começar a rodá-lo “como por mágica, as pessoas perfeitas apareceram para ajudar”.

Temos apóstolos, não meros coadjuvantes. E que apóstolos: um “Filósofo, Escritor e Consultor Pessoal”, um “Doutor em Ciência Metafísica”, um "Especialista na Arte de Ganhar Dinheiro”, um “Filósofo, Quiroprático, Terapeuta Natural e Especialista em Transformação Pessoal”, e por aí vai. Gente bem sucedida, rica (condição sine qua non para figurar na lista) e de religião indefinida, voltada para o sincretismo da Nova Era. Me admira muito o pouco que se fala em Norman Vincent Peale.

O Evangelho? Seu pensamento é uma força, e esta força materializará seus sonhos (ao contrário dos anúncios de nutricionista, não me pergunte como) desde que “vibre” na “freqüência” certa. “Pensamentos viram coisas”, diz o livro, porque a “lei da atração é a de que o semelhante atrai o semelhante”. Como um Roberto Carlos da semântica, o azul a ser evitado é o “não”, que o universo entende como “sim” (sic). Logo, se digo que “não quero pegar um resfriado”, o universo” “entende” que eu não só QUERO pegar um resfriado, mas até outras doenças. Está lá, na página 15 da edição nacional.

Os nobres colaboradores chegam a dizer que por mais que você não acredite no “segredo”, ele existe porque até você, “incréu”, se beneficia dele.

Incontrariáveis, esses “secretos”.

Um artigo, para convencer, deve abordar todos os ângulos de uma questão. Juro que era meu intento. Mas desisti. Acho que falar deste livro, ou melhor, contra este livro, é dever moral do homem inteligente, que se sentirá ultrajado com o desfilar de sandices absurdas vendida em nome da fé dos incautos. Mas acho que o livro não merece tanto. Melhor que seja esquecido, como triste retrato de uma época inculta.

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Ou que fique a moral da história:

“Pense positivo”, falou a pilha, com dor no negativo.

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Para saber mais (ou conferir as bobagens in loco):

http://www.thesecret.tv/index.html

http://www.thesecret.tv/behind-the-secret-making-of.html

http://www.dominiodavida.blog.br/mitos-e-mentiras-da-lei-da-atracao-ou-rhonda-pulou-o-como/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rhonda_Byrne

http://www.time.com/time/specials/2007/time100/article/0,28804,1595326_1615737_1615871,00.html

http://artedeler.blogspot.com/2007/08/o-segredo-rhonda-byrne.html

Renato van Wilpe Bach
Enviado por Renato van Wilpe Bach em 11/05/2008
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