Espetáculo Musical "A face da Misericórdia", estrelado pela Comunidade Filho de Maria, sob direção de Paulo Morais em 23 de dezembro de 2016.

 

A face da Misericórdia

 

O filho parte. Logo, a voz do Pai: “espero”. O trem segue seus trilhos. Os passageiros se equilibram. O balançar da vida. Das janelas, expectativas. A estação sempre em espera. E descem as pessoas. E vêm as pessoas. E se vão as pessoas. E sobem as pessoas. E o filho caminha. Em torno, um mundo novo. Horizontes convidam. O filho se encanta. Nesse momento, inicia-se a via. Será ou não santa?
 
Aproximam-se pessoas de todos os lados. O humano e suas máscaras. Na cabeça do filho, novo chapéu. No corpo, novo paletó. Nos pés, novo brilho do calçado. Nos olhos, óculos novos. E vislumbres se apresentam. Os atrativos dos vícios. O instinto do sexo. O poder das mãos. Enquanto nas mãos, o poder.
 
E em meio ao estrume, brotos verdes de esperança. Aproximam-se pessoas de poucos lados. O humano e sua fé. A razão que alimenta a vida. Ela está no divino. Na crença do algo mais. O norte que não se perde. Como uma mão que conduz. Crianças que somos em constante aprendendo a andar. E vêm as quedas e os choros. A mão estendida, mas a resistência. A incompreensão do mistério. O medo de uma verdade escondida. O medo de uma mentira vencida. E ante as belezas mais exatas, as decisões. Escolho este presente diante bem à frente. Assim opta o filho.
 
E se costuram amizades. Feitas de remendos, linhas frágeis. O gosto da pele e da carne. O sabor dos aromas e dos sons. Não há como negar, aceitar a condição humana. Mas há como dosar, orientar a humana condição. A fraqueza sempre em grito que não se ouve. Aquele clamor por dentro.
 
Mas uma vez, o sussurro. O calor do amor de Deus. E outra vez vêm as pessoas. E trazem mais uma vez a palavra. O trato, o manejo diz tanto quanto a palavra. Sabe-se pelo olhar quando o amor é sincero. Sabe-se, pelo sorriso, se a amizade será vero. E novamente, a manifestação da presença divina. E surpreendentemente, o filho opta pela dureza da lida.
 
Porém, chega o instante em que tudo não é mais. Chega o nada para quando o tudo se esvai. Chega o vazio para o antes cheio. O esplendor de um rodeio decadente. E assim escorre pelas mãos o poder. Aquele criado pelo homem. Mas lá do alto, outro poder. Este no qual devemos nos prender.
 
E se ouve lá no fundo a voz da Mãe. Voz doce, voz de quem dá a luz. E o filho percebe a maternidade divina. Aqui na terra nomes vários. Lá do alto, Maria. O primeiro colo, o primeiro aconchego, o primeiro lar. Do braço da Mãe ao braço do Pai.
 
A experiência da misericórdia. À mão sempre estendida agora o filho segura. Peito sentido, sussurro nos lábios. A lembrança da casa do Pai. Vencido o orgulho, a humana condição. O perdão pedido por palavras grafadas. A resposta não é necessária, pois é certa. Lá sempre o espera o Pai. Abertos braços, coração estendido.

 
O filho parte. Logo, a voz do Pai: “espero”. O trem segue seus trilhos. Os passageiros se equilibram. O balançar da vida. Das janelas, expectativas. A estação sempre em partida. E descem as pessoas. E vêm as pessoas. E se vão as pessoas. E sobem as pessoas. E o filho caminha. Em torno, um novo mundo. Horizontes convidam. O filho se encanta. Nesse momento, inicia-se outra via. Será ou não santa? Já sabe a resposta, se Filho de Maria.