Sumidade

Sumidade

Como posso querer tocar-te, querida,

sendo o que és, a deusa que mais venero,

e se, ao contato destas tão indignas mãos,

te profana o calor, os calos, o clamor?

Como ousaria te aprender, se entre tantas

lições que não sei, és a que sequer sonhei?

Como trazer-te ao coração, se de espinhos

te encobristes e entre farpas te escondestes?

Dai-me esta alegria: desaparece!

Desvaneça-te no ar para que eu possa,

em toda parte, aspirar-te. E se um dia

vieres a faltar, não tenhas medo ou pudor:

sopra teu vento frio sobre mim e leva

contigo, do jardim, as folhas mortas do amor.

Adriano Dal Molin
Enviado por Adriano Dal Molin em 17/01/2011
Reeditado em 18/01/2011
Código do texto: T2733941
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