MARTÍRIO NO INVERNO


Um vento forte põe escâncaras ao medo
Inda que o sol prometa para logo cedo
Aquecer o corpo frágil e atormentado
A dormir sob uma marquise, abandonado.

A noite parece mais longa e apavorante 
Quando a fome aperta e o frio causticante
Penetra-lhe até os ossos combalidos
Mal cobertos por carne magra, em pruridos.

Entornar a pinga de nada lhe valeu
Para reter um pouco do calor vital.
E o silêncio da noite escura como breu

Cedeu ao som e à luz da aurora matinal.
Na linha do horizonte o sol apareceu -
Muito tarde. A vida já deixara o local.