Soneto do amor próprio
Tu me julgaste - isso me magoou,
Do julgar em si, nem franzi o cenho,
Mas tu o fizeste pelo que tenho,
Desconsiderando o que deveras sou.
Vai-me pel'alma o sangue que escoou,
Conquanto ser julgado ainda suportaria,
É certo que toda ferida se cura um dia,
Mas foi golpe fatal, amor que se acabou.
Ferido de morte o puro sentimento,
Impossível ficar, nisso não há problema,
Doravante parto a perseguir o vento.
Há, para tal crueza, decerto, alento,
Supero com um adeus e este poema,
Sem saudade: só dignidade e me contento.