A corrupção é o cupim da República - dois sonetos sobre a corrupção

Cupins férteis

As fêmeas dos cupins são sempre entrevadas,

vivem na obscura parte do edifício,

fundo de cupinzeiro, cegas em ofício

de só reproduzir novas ninhadas;

os cupins operários lhes trazem comida,

nada fazem além de serem tristes fêmeas,

somente entre elas mesmas almas gêmeas,

sem chance de saírem, conhecer a vida.

E não há ficção nessa realidade,

este é o destino atávico dessas senhoras,

formarem um harém sem outros sonhos,

no mundo do ocidente também foi verdade

mulheres terem sido não de si senhoras,

e ainda existir as de cenhos tristonhos.

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Cupins malditos

Cupins donas de casa e os operários

iguais vampiros não gostam de paz nenhuma,

são os machos que voam em tarde quente e úmida

buscando a luz do poste do seu bairro;

a cômoda antiga que foi da sua avó

pode ser infestada pela praga,

assim como um Santo de museu que rasga

com sua boca aberta de roedor;

o inseto é capaz de roer também as estruturas

da sua casa, ou livros da sua biblioteca;

à noite os operários saem em busca do ágape

que saciar colônia é seu trabalho escravo,

e a nossa ecologia aqui é a de exterminá-los,

para que não corrompam nunca mais República.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 17/03/2018
Código do texto: T6282593
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