DOÍA

Por que ainda me tens buscado?

A ferida deixada inda não é cicatriz.

Sou como um pássaro na gaiola, calado.

Sou como uma porta muda e infeliz.

Por que me tens tanto maltratado?

Por pouco não acabas comigo, por um triz.

Essa é a recompensa por ter muito amado?

Não foi isso que eu desejei ou quis.

Dentro em mim há um mar revolto,

Por fora são águas calmas e suaves,

Como de um rio tranqüilo e solto.

O vento era forte que meu mar revolvia,

Agora me sinto voando com as aves,

Livre e sarado da ferida que tanto doía.