5 sonetos

O medo entre os sexos

Em que a tensão ainda possa ser o espelho

a tremular do medo e a precaução medrosa

estragar a prudência até sangue vermelho

jorrar em borbotões pelo botão de rosa,

porque quando a prudência é estragada ocorre

que o medo exige ao álcool boa dose de força

e a força reforçada é fraca se de porre

o urso de prepúcio vira vulnerável corça

e o prepúcio do urso vê os bagos em pelúcia

e a mulher empurra a masculinidade

pela ladeira abaixo, mas fica na ilusão

de topo de ladeira, tragédia que anuncia

degradação do medo, do medo de verdade,

um dia simples medo, hoje, convulsão.

------------------------------

Indubitável brisa

Se na vagante brisa de um devaneio

manhã vier ao seio ou ao lábio cheio

de muito mais que anseio ou receio

não escolha pelo meio o que for recheio

pois o que vier da brisa da manhã cálida

se não a deixar pálida ou c’ a pele úmida

talvez não seja vida ou a sensação ávida

ou palavra atrevida ou bela mais que cândida;

oras, brisa é brisa, que vem e alisa

o teu lábio de à guisa ser o que realiza

o que a palavra frisa, no nada que irisa

na brisa agora vento ou sopro em aumento

do campo onde iria lento se brisa não no intento

se então marcares o tento, de amar fosse só invento.

----------------------------------

Caçamba Zen!

Caçamba em um rio nunca é igual a um seixo

que por água profunda vai e se lapida,

chega em um momento que se assim a deixo

a caçamba afunda e sequer trepida,

o fundo de um rio é a inconsciência,

enquanto em superfície há navegação,

caçamba é a cabeça onde a presciência

consegue como o seixo uma lapidação

porque em presciência não existe nada

e a velocidade em nós do rio nos desfaz,

desfazendo os nós que hajam na caçamba

forçando-a ir ao fundo de chofre e bamba

para voltar ao topo só se for capaz

de poder ver o fundo onde o tudo é o nada.

--------------------------

Cercanias de nós mesmos

O que fazer conosco é o espelho fosco ou límpido

do que se refletir em modo de ser hígido,

doentio ou sem caráter face à sociedade,

e, assim, sempre será, eis a grande verdade;

talvez alguém se importe como me importo

em ser navio que saiba onde está o porto,

sem navegar por mares à deriva e sonso

com tonsilas em urros e úvula em esconso;

sem sentir o prazer do que é felicidade,

sempre na mesma rota, rota que arrota

defeitos como se fossem identidade,

limite em que a cerca nunca fica rota,

em que o homem é a sua mediocridade,

onde melhor imagem de si nunca brota!

------------------

Coruja, o nome que eu dei àquele olhar.

O sol do pensamento ao ficar esgotado

deixa de ter a lógica e a sua fortaleza

nos leva a gente lesa a gerar gentileza

de ter que atravessar mar revolto a nado,

entre fumaças e turbantes de vis brumas

a enovelar cabeça com panos de múmia,

enquanto a vaca tosse e o gato branco mia

soltando pelas ventas estranhas espumas,

que caem na calçada para o sol secar,

mas que após secadas são como pegadas

continuando a andar aos olhos do delírio

à margem d’ água toda se houvesse um rio

com tiros de espingarda para que espantadas

o enxame de aves à coruja parar.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 18/04/2018
Código do texto: T6312099
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.