5 sonetos
O medo entre os sexos
Em que a tensão ainda possa ser o espelho
a tremular do medo e a precaução medrosa
estragar a prudência até sangue vermelho
jorrar em borbotões pelo botão de rosa,
porque quando a prudência é estragada ocorre
que o medo exige ao álcool boa dose de força
e a força reforçada é fraca se de porre
o urso de prepúcio vira vulnerável corça
e o prepúcio do urso vê os bagos em pelúcia
e a mulher empurra a masculinidade
pela ladeira abaixo, mas fica na ilusão
de topo de ladeira, tragédia que anuncia
degradação do medo, do medo de verdade,
um dia simples medo, hoje, convulsão.
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Indubitável brisa
Se na vagante brisa de um devaneio
manhã vier ao seio ou ao lábio cheio
de muito mais que anseio ou receio
não escolha pelo meio o que for recheio
pois o que vier da brisa da manhã cálida
se não a deixar pálida ou c’ a pele úmida
talvez não seja vida ou a sensação ávida
ou palavra atrevida ou bela mais que cândida;
oras, brisa é brisa, que vem e alisa
o teu lábio de à guisa ser o que realiza
o que a palavra frisa, no nada que irisa
na brisa agora vento ou sopro em aumento
do campo onde iria lento se brisa não no intento
se então marcares o tento, de amar fosse só invento.
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Caçamba Zen!
Caçamba em um rio nunca é igual a um seixo
que por água profunda vai e se lapida,
chega em um momento que se assim a deixo
a caçamba afunda e sequer trepida,
o fundo de um rio é a inconsciência,
enquanto em superfície há navegação,
caçamba é a cabeça onde a presciência
consegue como o seixo uma lapidação
porque em presciência não existe nada
e a velocidade em nós do rio nos desfaz,
desfazendo os nós que hajam na caçamba
forçando-a ir ao fundo de chofre e bamba
para voltar ao topo só se for capaz
de poder ver o fundo onde o tudo é o nada.
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Cercanias de nós mesmos
O que fazer conosco é o espelho fosco ou límpido
do que se refletir em modo de ser hígido,
doentio ou sem caráter face à sociedade,
e, assim, sempre será, eis a grande verdade;
talvez alguém se importe como me importo
em ser navio que saiba onde está o porto,
sem navegar por mares à deriva e sonso
com tonsilas em urros e úvula em esconso;
sem sentir o prazer do que é felicidade,
sempre na mesma rota, rota que arrota
defeitos como se fossem identidade,
limite em que a cerca nunca fica rota,
em que o homem é a sua mediocridade,
onde melhor imagem de si nunca brota!
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Coruja, o nome que eu dei àquele olhar.
O sol do pensamento ao ficar esgotado
deixa de ter a lógica e a sua fortaleza
nos leva a gente lesa a gerar gentileza
de ter que atravessar mar revolto a nado,
entre fumaças e turbantes de vis brumas
a enovelar cabeça com panos de múmia,
enquanto a vaca tosse e o gato branco mia
soltando pelas ventas estranhas espumas,
que caem na calçada para o sol secar,
mas que após secadas são como pegadas
continuando a andar aos olhos do delírio
à margem d’ água toda se houvesse um rio
com tiros de espingarda para que espantadas
o enxame de aves à coruja parar.