MEU LADO

Quando me perguntarem onde estive

Durante a tempestade mais feroz

Sem embargos direi em alta voz:

- Salvando vidas de ondas me entretive.

Juntei-me a tantos outros e mantive

Vivo o combate ao risco mais atroz,

Por ver que além do eu, impera o nós,

Quando se abeira a vida do declive.

Não há vida alheia, é apenas vida

O pulsar de um corpo em destemida

Luta contra as marés em seu furor.

Quando me perguntarem com orgulho

Direi que à tona vindo do mergulho

Estive do lado onde estava o amor.

No momento atual uma grande maré de ódio varre o país e empurra a democracia rumo ao abismo. Urge o engajamento de todos a uma bandeira que sirva de porto e traga à segurança passageiros e embarcadiços de uma nave que periga à beira da fenda abissal que é a ruptura institucional.

A natureza do poeta é republicana, sendo a essência o ativismo cultural itinerante.

Talvez neste o momento histórico, nós os poetas, devamos pensar em Garcia Lorca. O poeta e dramaturgo condenado à morte pelo fascismo espanhol antes de tombar varado por balas assassinas enalteceu a liberdade:

O que é o homem sem liberdade

O! Mariana diz-me

Diz-me como posso amar-te

Se eu não sou livre, diz-me

Como oferecer-te o meu coração

Se ele não é para mim.