Sonetos

Sentidos Versos

Estas pedras que tu pisa dizer-te iriam,

estas pedras que tu vê, mudas e sem alarde...

Se falassem quantos sonhos lhes diriam,

sobre elas caminharam no frescor da tarde.

Meu amor de saudade ando a sofrer,

por estes campos verdes, por estes agrestes...

Campos as flores que me destes,

n'alma eu guardei-as num eterno florescer.

E é tão breve nosso tempo nesta vida,

vagaroso segues co'o aroma da partida.

- Se soubesses o que sente diria-te amada...

No silêncio em que estás a padeceres,

repousa no meu ombro e venha veres,

à noite, que estás enluarada.

Folhas Secas

Lembrei-me quem eu era no vagar do tempo,

quando ias pelo céu o sol que brilha...

Lágrimas que escorrem nesta trilha,

eu as sinto-lhes aqui também por dentro.

Oh! Imagem bela do meu passado,

que trazes na umbrosa do meu destino.

Sagrada a luz dos luares, sagrado

o canto de outrora matutino.

Neste da vida sereno caminho,

ainda sentireis d'angústia o espinho.

Folhas secas que pisastes no outono...

Abrem de novo velhas chagas,

no vagar monótono das águas,

seguindo-me até no derradeiro sono.

Horas Tristes

O que sente, tristeza, ouvistes tu que ris

e andas alegre por este caminho.

Tristeza, ave que n'alma faz teu ninho,

ave que deixas esta vida infeliz.

Em todo peito há um bosque sombrio,

onde aflora dores na soledade...

Há em todo ser que sonha um vazio,

onde se ouve caminhar só a saudade.

Ah! Quisera tu na catedral do meu destino,

entoares, melancólico, o teu hino.

- E agora entre as flores quando vago...

As horas tristes que se vão assim passando...

São como aves a partir em bando,

são como folhas a boiar num lago.