QUEM SOU
Quem sou, senão o misto do que morre
E cujo esboço, ainda, fica vivo,
A resvalar na vida sem motivo,
Até que a própria morte o socorre.
Por mais que a vida aqui no corpo jorre,
Padece a alma sem o ilusivo
Amor que dela é todo o lenitivo
E sem o ter o corpo à morte corre.
Quem sou, pois, alma e corpo tem de assombros
Que de ilusões e graças já perdidas
Nas lápides deixaram suas vidas
E vagam noutros corpos a buscar
O amor que sabem nunca encontrar
E só a solidão pesam em seus ombros.