INTRUSO

Então mumificado à resina de cedro,

sombrio eu faraônico espectro, contemplo

passagens espirais do passado, meu templo,

enquanto lentamente abatido me empedro.

Verdades abismais adormentam-me a fibra,

apagam-me os sinais vacilantes de brilho,

arrojam-se na treva inundando meu trilho

e envolvem o amanhã num silêncio que vibra.

E eu antes plenitude apurado em abuso,

aspecto soberano a moldar minha obra,

me encontro condenado ao sepulcro de sal...

dum ente doentio afogado no mal,

de todo sabedor que da vida é uma sobra,

apêndice, tentáculo inútil, intruso.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 16/07/2019
Código do texto: T6697300
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