Zarpar

Tem momentos que não me aturo...

Quem me dera! Fugir de mim agora,

Para bem longe desta casca velha,

Gritar: fica-te aí, inútil grelha

E desculpa a tão longa e vã demora.

Quem dera! Sem "até logo", ir embora,

Sem ter olhar oblíquo, de esguelha,

Sem ligar para o quê me der na telha,

Sem compromisso, agenda, data e hora.

Há muito estou cansado de mim mesmo,

Cansado de vagar por mim a esmo,

Numa infinita estrada de cratera…

Quisera eu u'a folga sem retorno,

Mochila, tênis, quepe sem adorno,

Ir pelo mundo sem mim, ai quem dera!

Aracaju-Sergipe, 19/ 12/ 2019

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Mais uma vez fico grato e penhorado pela belíssima participação do Poeta Jota Garcia, em minha página de armengador de versos. Será sempre bem vindo.

O CHAMADO

Bem ao contrário de outra pessoa,

Que deseja apartar-se de si mesmo,

Deixar uma parte partir a esmo,

Pelo mundo, como uma coisa à toa,

Nem penso em entrar nessa canoa,

Existe um visgo que me prende em casa.

Sou assim qual um pássaro sem asa,

Que já não pula, muito menos voa.

Quando se é jovem, a aventura

Chama tão forte que ninguém segura,

E lá vamos nós pelo mundo a fora.

Mas já é tarde, mudou tudo agora,

Pois o arco-íris, o El Dorado,

Ficaram perdidos lá no passado.

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Sou imensamente grato pela particpação da Poetisa Ania, que me presenteou com essa pérola. Eu passo uma semana inteira para fazer um Soneto, isso quando estou inspirado, aí me aparece gente que faz isso como se estivesse comendo feijão com farinha"

Pudesse eu...

Ah, pudesse eu separar-me de mim,

sair bem de mansinho, corpo afora,

pisando leve, flutuando ir embora

como plumas ao vento, livre assim...

Liberta de tudo, sorrindo enfim,

dançando na chuva a qualquer hora,

sem compromissos, de mim senhora,

cantarolando, feliz pelos jardins...

Ah, pudesse eu esquecer o cansaço,

o tormento de viver por viver,

empurrando os dias mesmo sem poder...

Pudesse eu soltar esses elos de aço

num repente, todos grilhões romper

e a centelha dos sonhos reacender...

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Agradeço de coração, a articpação da Poetisa Aíla Maria Brito que me presenteou com esse Soneto de belíssima qualidade.

Fuga

Quem me dera, zarpar nesta aventura...

Tirar férias de mim, sem qualquer culpa;

Explorar novo 'eu', e sem desculpa,

Afastar-me de mim! Nessa procura.

Buscar-me renascer nova criatura!

Ah, quem dera! E sem drama que me inculpa,

O desapego. Enfim, que aqui se esculpa

Um novo molde, que cure a amargura.

Do meu eu, e me leve além de mim;

Por sonhos não sonhados...Outrossim,

Por rotas pronejadas, não vividas;

Que envolva esse meu peito indigente!

...Preciso dessa fuga, bem urgente,

Para sarar de vez, todas feridas.

Um Piauiense Armengador de Versos
Enviado por Um Piauiense Armengador de Versos em 17/01/2020
Reeditado em 29/01/2020
Código do texto: T6844017
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