QUANDO NÃO ERA INÚTIL SONHAR

Era manhã - ouvia o som das asas
de um velho cuco, as horas, como sinos,
lamentando a saudade, e pequeninos
papéis compunham nomes de almas rasas.

Algo estava a crescer naquelas casas,
como o anticeticismo dos meninos
soltos nas ruas, fétidos destinos,
ou algo em nossos corpos, como brasas ...

Eu só temia a morte, seu abraço
completamente cínico, e seu beijo ...
Mesmo assim, tinha muito mais desejo.

Não era inútil, como hoje, ter sonhos,
- encontrar, na manhã, ventos risonhos
limpando a poeira. - Hoje, apenas passo ...


(Parte do livro de sonetos "Oração". Poema antigo, de 1985)