QUEDA DA FOLHA
Eu transformei o sol em seiva bruta
E a transferi ao fundo das raízes,
Deixando as irmãs-folha tão felizes
Quanto eu, entregue a essa intensa luta.
Dos verdes tempos, vi-me em cada fruta,
Em cada flor, nos ninho das perdizes,
Fui entretom perdido nos matizes
Da copa, sem com nada abrir disputa.
E nos cinzentos tempos, entre o pulo
Do galho amigo ao solo, tal um pêndulo,
Sorvo a luz, ainda, tonta de prazer.
É que enquanto viva, entre ser folha
Ou árvore, eu fiz a grande escolha
De ser floresta e ao mundo pertencer.