PONTO CEGO

PONTO CEGO

A ver... D'aqui onde olho nada vejo:

Eu não sei o que fazes ou o que sentes.

Eu só sinto que tu, de facto, mentes

Acerca do que entendes por desejo.

Pois, se tu me quisesses, sem gracejo,

Mostrarias o oculto a minhas lentes,

Visto que nos meus olhos displicentes

Toda a tua inconstância lacrimejo...

Eu, com efeito, choro a tua ausência

Como fosses sabida inexistência

Ao largo d'uma vida bem vivida.

Talvez te sonhe, linda, no que ignoro.

E, ao imaginar na ausência, eu tanto choro

O teu olhar que ao nada me convida.

Betim - 25 207 2020