Nesta noite eu encaro a nossa cama

Nesta noite eu encaro a nossa cama

silenciosamente, não sorrindo.

Vem meu peito enxerido e me reclama:

"Pois então, quando chega ela luzindo?"

"Ela não chega" — o lábio triste exclama.

"Nem tampouco amanhã" — as mãos carpindo.

"Nem tampouco depois" — o olhar declama

enquanto vai na cama persistindo.

Egoísta, contudo, meu nariz

chama a todos, jurando que o perfume

não se esvaiu daquela colcha gris.

E jamais existira igual ciúme:

o lábio, as mãos e o olhar, demais hostis,

rebelaram aos céus feroz queixume!

14/11/2020

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 14/11/2020
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