DESABAFO DE UM POETA

TERRA QUE SEPULTA SEUS POETAS EM VIDA

Terra que sepulta seus poetas em vida,

Por favor, inda não venha me sepultar!

Que inda tenho muitos sonhos para sonhar

E tantas poesias em minh'alma contida!

Terra que sepulta seus poetas em vida,

Que ignora sua verve, seu doce cantar;

Mesmo sabendo que é a musa a inspirar

Antológicos poemas de sua escrita!

Oh terra que ignora meu parco talento,

Trancando, pois, na gaveta do esquecimento

Os poemas mais puros e ingênuos da terra!...

Oh torrão que me prende, e que me faz cativo,

Não venhas com a tua pá soterrar-me vivo,

Que inda quero cantar-te até o fim da guerra!

ATÉ QUANDO?

Até quando esse amor será reverso?

Até quando a terra mãe será ingrata

Com seu filho que lhe ama e que lhe trata

Como a joia mais bela deste universo?

Até quando, eu pergunto em cada verso,

Essa vil sociedade aristocrata

Rotulará contra ti essa bravata

De pseudopoeta, controverso?

Até quando serás menosprezado,

Tratado com frieza, hostilizado,

Impactado por tanta ironia?

'Té quando manterás acesa a chama,

Em teu peito, declarando que inda ama

A terra que te inspira a poesia?...

POR QUE NÃO ESQUECER A TERRA INGRATA?

Por que não esquecer a terra ingrata

Que a seu filho renega e só maltrata?

Que lhe faz sentir como um Zé Ninguém,

Do reconhecimento, sempre aquém.

Por que não esquecer a terra ingrata

Que com tanto desdém ela me trata?...

Mas a terra, meu Deus, que culpa tem

Se há pessoas que não me querem bem?

A terra que o Senhor me fez nascer

Porventura tem culpa do sofrer?

Da ingratidão que recebo sobre ela?...

Minha terra é meu berço, meu torrão!

Com cultura que encanta o coração,

Que, pra mim, do mundo todo, é a mais bela!...

DESABAFO DE UM POETA

Não me venha colocar nome de praça,

Não me venha colocar nome de rua,

Pois somente quando morre é que tem graça?

Que reconhecem poeta em terra sua?...

A indiferença vivida ela é tão crua,

Esse desprezo ignóbil que não passa;

Por que somente ao morrer se atenua,

Que enaltecem o poeta para massa?...

Por que tanta indiferença neste mundo

Contra quem o seu torrão amou profundo,

Enaltecendo a grandeza que ele encerra?...

Por que, em vida, ele não é valorizado?

Por que apenas quando morre é que é lembrado,

Que reconhecem seu valor em sua terra?...

A INGRATIDÃO DA HUMANIDADE

A ingratidão, meu Deus, essa pantera

Que habita o coração da humanidade,

Ignorando o amor e tua bondade,

Chamando-te até mesmo de quimera!

A ingratidão, meu Deus, no mundo impera;

Fazer o bem parece iniquidade!

O agradecimento é leviandade,

Sempre da parte de quem não se espera!...

É contumaz, meu Deus, homens ingratos,

Comer teu pão, depois cuspir nos pratos,

Ignorando o amor com que fizeste!...

E quando pede comida, um faminto,

Ignoram o pobre no recinto,

Negando repartir do que lhes deste!...

AVANTE, POETA!

Jamais espere ser reconhecido

Um dia, poeta, em terra tua;

É mais fácil ser no céu e na lua

Que na planície onde haveis nascido!

Avante, poeta, ao desconhecido!

O mundo é grande pra que se construa

U’a vida feliz na qual se pontua

Valor literário, bem conhecido.

Levante a cabeça e olhe pra frente!

O mundo é tão vasto e tem tanta gente

Pra que se conquiste com paz e amor...

Prossiga sereno, sem olhar para trás,

Buscai novos sonhos que teus ideais

Serão confirmados por Noss’ Senhor!

SER POETA NA VIDA

Vai, meu filho, ser poeta na vida!

Falou-me meu pai com brilho no olhar.

Depois uma lágrima eu vi rolar

Pela fronte serena... envelhecida...

Meu pai que me dera amor e guarida

E que me ensinou a andar e falar,

Também queria ensinar-me a voar

Pra desfrutar dos prazeres da lida!

Mas de uma coisa meu pai se esqueceu,

Foi de avisar-me que este mundo é ateu,

Que em nossos sonhos jamais acredita!...

Todavia meu pai, sempre confiante,

Acendia-me o sonho, a cada instante...

— Vai, meu filho, ser poeta na vida!

CONSELHOS DE PAI

Vai, meu filho, ser poeta na vida!

Ser condensador de grande emoção.

Que importa se o mundo é luta renhida,

É guerra travada em teu coração?...

Vai, meu filho, ser poeta na vida!

Fazendo teus versos, sem pretensão;

Pois quem sabe um dia, na aurora incontida,

Como os raios do sol, resplandecerão!

Vai, meu filho, pois o mundo te espera!

Mesmo que mostre a fauce de pantera,

Longe de ser um jardim a florir...

Que importa, meu filho? — Confia em Deus!

Guarda em teu peito estes conselhos meus,

Pois o bom da vida inda está por vir!