Soneto da Alma Ferida
No peito trago um pranto que não cessa,
Um vento frio a sombra me oferece.
Em cada passo a dor me ensurdece,
E a noite em mim se alonga sem promessa.
Meus olhos são abismos de tristeza,
E o tempo, impiedoso, não consola.
A vida, em seu desprezo, me isola,
Semeia em mim saudade e incerteza.
Mas se a manhã enfim me alcançar um dia,
Quem sabe a luz dissolva a dor amarga,
Quem sabe o tempo cure essa ferida.
E se essa dor for chama que me guia,
Que ao menos sua ardência nunca apague
O que em minh’alma resta de vida.