No vazio da hora

O silêncio na imensidão do lar

É jarro quebrado que se desfaz

Em choro contínuo a desafiar

Palavras duras que estupram a paz.

O cheiro matinal do abismo vem

E a relação esfarela em pó, e jaz.

Quietos, olhos de rancor, porém,

Que se perde na lembrança fugaz.

O vazio da hora nunca demora;

Chega sem alarde, pronto a punir,

Teima feito mula — e jamais vai embora.

Abraço o desejo cinza da fala

E faço versos para então cuspir

Esse mundo cego que emperra e cala.