Soneto monossilábico III

Sem pai nem mãe, sem pão, sem chão, sem lar,

sem ter a quem dar mais que um “oi”, sem ver

que o céu não é mais céu (e não vai ser,

pois o que vê é o pó que há no ar),

que o céu e o mar já não têm mais a cor

da paz, e mais e mais o breu do ar

não dá mais vez à luz, sem ter pra dar

de si a quem quer bem, se só tem dor,

o que vai ter de bom, se o fim já vem?

O que vai ter pra dar, se o mal e o bem

têm no seu ser a cor do breu do ar?

O que de mais vai ter que já não tem?

O fim? O pó do ar? Pra dar a quem?

Já não tem pai... Já não tem mãe... Tem lar?