DESAFIOS POETRIXTAS: POETRIX, DUPLIX, TRIPLIX E MULTIPLIX.

1. POETRIX

Poetrix é um gênero minimalista criado pelo poeta Goulart Gomes, na Bahia, em 1999. É um terceto, com título e, no máximo 30 sílabas métricas. Deve ser conciso (como diz, Goulart, “o mínimo é o máximo.”), ou seja, o poetrix é uma pílula, ainda segundo o seu criador. Tem outras características que podem ser vistas na bula poetrix. E também conceitos como “salto”, “susto”, “semântica”, além de se recomendar a observância dos valores preconizados por Ítalo Calvino (leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência).

Mas, aqui, parte-se do pressuposto de que quem se propõe a fazer um duplix já domine bem a arte de fazer o poetrix. Então, vamos ao duplix.

2. DUPLIX

Duplix consiste na criação de um poetrix que se inspira em algum outro. Um(a) poeta vê um poetrix de alguém, acha-o interessante e imagina que possa escrever um outro que estabeleça um diálogo com ele. Então, cria um poetrix cujos versos combinam com cada um dos que estão contidos no poema original. Esse poetrix, se publicado isolado, tem que ter vida própria, ser uma ideia completa.

Depois de pronto o poetrix é necessário que seja submetido à apreciação do(a) poeta original. Este novo poema só poderá ser considerado como duplix depois que o poeta de origem aprovar. Nesse momento, caso necessário, pode-se negociar pequenos ajustes, em comum acordo. Lembrem-se: mesmo que o seu poetrix esteja perfeito como duplix, pode ser que o(a) outro(a) não o aceite. Se aceitar, tanto melhor. Só com aprovação você poderá fazer a postagem do duplix.

2.1. Algumas considerações sobre o duplix

1. Duplix: dois poetrix independentes, mas que dialogam. Complementam-se ou suplementam-se em harmonia;

2. Podem ser lidos na vertical e na horizontal;

3. O duplix proposto pode vir antes ou depois do poetrix original;

(Por que isso? Muitas vezes, o poetrix original tem um terceiro verso muito forte, bem conclusivo. Nesse caso, não se aconselha que o duplix seja colocado à direita, mas, sim, à esquerda, antecedendo o poetrix original.)

4. Os títulos devem, também, dialogar, serem complementares;

5. Recomenda-se que os versos sejam separados por barra dupla, bem como o título. Às vezes, quando a mídia permite, pode-se usar cores diferentes nas fontes para identificar a autoria. Observa-se muito isso no Recanto das Letras;

6. Importante o registro da autoria de cada poetrix;

7. Para que o duplix seja harmônico, observe gênero, número e grau. Se o sujeito da ação é masculino ou feminino, se a ação está no singular ou no plural;

8. Um bom duplix não deve ser redundante, repetitivo da ideia original. Deve ampliá-la, enriquecê-la. Os versos podem ser complementares ou suplementares, indo um pouco além, trazendo um novo olhar sobre o tema;

9. Nem todo poetrix se presta para se fazer um bom duplix. Às vezes, sua arquitetura é muito singular, bem fechada e peculiar, o que dificulta uma inclusão harmônica de novos versos, sem riscos de traumas poéticos.

Então, relembrando:

Evitar redundância de versos... Um bom duplix tem que ampliar a ideia original, complementando-a ou suplementando-a... Ou seja, precisa haver alguma contribuição que acrescente e enriqueça a ideia original.... Os versos precisam harmonizar-se entre si. Observe:

a) O primeiro verso do duplix tem que continuar a ideia do primeiro verso original. E, ao mesmo tempo, precisa ter continuidade no segundo verso do poetrix de origem;

b) Da mesma forma, o segundo verso do duplix precisa ser uma continuidade, ou acréscimo harmônico, do verso antecedente. E, de semelhante modo, precisa dialogar com o terceiro verso do poetrix original que vem em seguida;

c) Finalmente, o terceiro verso do duplix precisa fazer um “fecho de ouro” para o tema original, ou seja, ser algo marcante, conclusivo.

3. TRIPLIX E MULTIPLIX

Triplix é um terceiro poetrix colocado na sequência de um duplix.

Multiplix (ou quadruplix) é um quarto poetrix que se segue a um triplix.

(Duplix: dois autores diferentes; Triplix: três autores; Multiplix, quatro autores).

Para triplix e multiplix seguem-se as mesmas recomendações para o duplix: cada poetrix precisa ter vida própria se publicado isoladamente. Tem que haver harmonia entre os versos, continuidade lógica, versos complementares ou suplementares que acrescentem, que enriqueçam o tema.

Propiciam, também, leitura na vertical e na horizontal.

Precisa haver aprovação do poeta de origem, sendo que os demais poetas também podem se manifestar caso achem que o triplix ou o multiplix não está(ão) em harmonia. Todos precisam estar em acordo, pois, afinal, trata-se de uma criação que envolve mais de um autor.

No caso do triplix e do multiplix, os novos poetrix tanto podem vir no começo, no meio ou no fim. Cabe ao poeta que for triplicar ou quadruplicar observar o melhor lugar para encaixar o seu verso.

Então, poetas, duplicar, triplicar ou quadruplicar um poetrix sempre será um bom desafio e uma boa escola para treinar a sensibilidade, além de testar a sua capacidade de produzir poema de forma colaborativa.

Bem-vindo ao Clube.

Finalmente, recomendo a leitura do artigo sobre o mesmo assunto que está postado no Recanto das Letras, de autoria da saudosa poetrixta Mardilê Friedrich Fabre que partiu recentemente. Uma lamentável perda para a poesia.

Veja o link:

https://www.recantodasletras.com.br/teoria-literaria-sobre-poetrix/1544911

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* José de Castro, jornalista, escritor, poeta (tudo na ousadia de aprender)… Membro da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN – SPVA/RN e da União Brasileira de Escritores – UBE/RN. Membro correspondente da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – ALACIB/Mariana/MG, ocupando a cadeira 28. Publica também no Recanto das Letras. Contato: josedecastro@gmail.com

José de Castro
Enviado por José de Castro em 04/11/2018
Código do texto: T6494308
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