SUA MAJESTADE O SONETO

Como formato tem mais de setecentos anos, e pelas mãos de um mestre, pode ser o Novo estético, apesar de seu vetusto invólucro formal. Engana-se quem desconsidera o soneto somente por sua antiguidade de forma. O desafio é saber fazer a peça escritural com a Poesia entranhada nos versos que o compõem, perceptível pela codificação verbal e a sensação de estranhamento ou alumbramento perceptível, de pronto, à primeira vista, enquanto receptores. Esta regra vale também para o poema da contemporaneidade, enfim, para todo e qualquer formato de linguagem codificada e contida, na qual o derramamento verbal é incabível. Assim se apresenta o fenômeno da Poética, em variados formatos, no entanto, tem de propor o estranhamento ao seu leitor, resultado da codificação verbal, na qual a linguagem figurada é a tônica predominante. E nesta, a metáfora se sobressai. Aliás, sem o comparecimento desta, a Poesia – como gênero – não se caracteriza. Este é o desafio para a confecção do soneto: nunca deixar preponderar ou meramente subordiná-lo ao estrito formato do número de versos e suas regras de silabação tônica, rimas e outros condimentos, e sim conciliá-lo com a Poesia, em sua necessária comunicação estética codificada, plena de sugestão e imagética. Os olhos espirituais alumbram-se com o bom soneto e (sua) sempre nova poética fixada pelo conteúdo, mercê da “camisa de força” ou “gaiola de ouro” formada por quatorze versos, símbolo magno do classicismo poético. Muito difícil de esculpir, mais ainda de criá-lo belo, veraz e sábio em seu conteúdo.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/5486179