O SIGNO DAS FALAS

O mundo do poder (e seus atores) está sempre de bolsos cheios para aqueles que detêm a carpintaria das falas, especialmente no ideológico. Este é o mistério entre os que têm e os que são: as mais das vezes, para o tutor- poeta, o poder inexiste além da palavra. Engano sórdido... Este signo das falas jaz morto, enquanto o receptor não lhe dá o sopro da vida. A palavra haurida da poética em si pouco ou nada significará por não ter destinação objetiva, portanto, inútil tal um natimorto. Ou como a criança recém-nata, cujo arauto de vida é o choro. Quando aflorada, escrita, assim é a anunciação no mundo dos fatos: no mais pleno silêncio e humildade. E é neste silenciar de atos e fatos que ela viceja com fortaleza, mesmo que nem sempre soem as trombetas. Porque ela, por si, é tímida e discreta. Quem a torna altissonante e veraz é o receptor, cujo ato de leitura lhe inocula a tensão do viver...

– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 01: O Exercício do Sentir Poético. Porto Alegre: Evangraf, 2016, p. 14.

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