Escrita criativa é não colocar perfume na flor

O quarto, a cozinha, banheiros ou um simples passeio pelas vielas e praças da cidade, podem se transformar em laboratórios de escritas que contribuirão no processo de criação de crônicas, romances, poemas, poesias, textos opinativos e outros devaneios.

Toda a experiência vital pode auxiliar na utilidade de escrever, inclusive um monte de lixo. Aliás, o lixo pode revelar a mais pura originalidade da personalidade de quem o descarta. Contudo, o ato de simplesmente depositar os resquícios na lixeira pode dar início ao desenrolar uma crônica, uma poesia ou um artigo de opinião, e simultaneamente fazer uma analogia entre a corrupção e a podridão das lixeiras.

Fato curioso é que os cadernos servem para desenhar as viagens de uma história de amor ou as aventuras gastronômicas, já as folhas com anotações de ideias em cafés ou bares da cidade conseguem compilar os mais desconexos pensamentos. A escrita criativa usada com técnica aprimora a obra, não obstante, porém em demasia pode aprisionar as ideias e as enjaular nas sombras de uma razão pura.

De fato a leitura é primordial para ressignificar os conteúdos e também um ato de tirar a roupa de ideias enrijecidas ou tendenciosas para uma linha ideológica. Despir-se para buscar as referências. Versos e linhas, autores e pensadores, tudo na chaleira borbulham possibilidades de expressão. Enfim, o texto pode surgir a partir de um desenho, de um olhar matutino, ou das relações entre criador e criatura. E o que fazer com a crise do papel em branco? Faz parte da carreira de um grande escritor: o ler e reler, escrever e reescrever. O renomado Guimarães Rosa pode ser um grande passo para a inspiração, uma vez que, foi um grande escritor insatisfeito com o que escrevia.

O ato de escrever produz uma combustão de comunicar uma ideia de forma não banal e óbvia, pois há formas de desaumatizar as palavras e possibilitar novas sensações ao leitor, e é certo queescrever é uma possibilidade que todos têm, e o que difere entre fazer um vestido ou escrever um livro é somente o trabalho. Segundo Machado de Assis o melhor amigo do escritor é a tesoura, que pode cortar todos os excessos e exageros.

Por fim escrita criativa é não colocar perfume na flor, já versava João Cabral de Melo Neto, mas tentar atingir o perfume original da mesma a evitar a artificialidade.