O LEITOR FRENTE À CRIAÇÃO

E então o poeta-pesquisador condenado ao pensar disse ao interlocutor: “Estivemos falando até o presente momento sobre a criação humana, portanto, nada tem a ver com o mavioso canto dos pássaros trazido como base de sustentação para a tua posição, querido escriba. Também, em nenhum momento falei em aplausos do leitor para que o texto viesse a existir, conforme argumentas”. O que está posto por mim é que o texto prosaico, e mais fortemente o poema, só adquirirá vida após a leitura feita pelo receptor. Até então, o escrito era apenas matéria inerte, segundo o meu modo de ver. Acato, teoricamente a chamada "Teoria da recepção", de Hans Robert Jauss, nascida em 1967, na Universidade de Constança, Alemanha: “A Estética da Recepção ou Teoria da Recepção propõe uma reformulação da historiografia literária e da interpretação textual, procurando romper com o exclusivismo da teoria de produção e representação da estética tradicional, pois considera a Literatura enquanto produção, recepção e comunicação, ou seja, uma relação dinâmica entre autor, obra e leitor. Pela reconstrução do processo de recepção e de seus pressupostos, restabelece a dimensão histórica da pesquisa literária, conforme observa Luís Costa Lima em estudo introdutório, alguns dos teóricos e analistas da estética da recepção apontando para a mudança do paradigma da investigação literária e discursiva, remetendo o ato de leitura a um duplo horizonte: o implicado pela obra e o projetado pelo leitor de determinada sociedade. A estética da recepção volta-se para as condições sócio-históricas das diversas interpretações textuais: o discurso literário se constituiria, através de seu processo receptivo, enquanto pluralidade de estruturas de sentido historicamente mediadas.”. (Wikipédia). Por esta, fica assente que o analista crítico deve levar em conta os critérios de recepção, o efeito produzido pela obra nos leitores – meta principal de quem produziu a proposta literária e da obra em si quanto aos seus efeitos, frente a cada leitor. Esta concepção teórica é a que mais me satisfaz para tentar entender a fenomenologia do nascimento da obra ou peça literária nos dois polos de criação: o autor e o leitor. Segundo esta abordagem e concepção, o leitor tem função preponderante, sacramental. É o polo receptor que vivifica o texto, aquele que lhe dará publicidade. Vale dizer, permitirá ao escrito a vida autônoma e lhe poderá conceder a exata medida da dimensão de sua receptividade, desde o anonimato até a alta notoriedade – o best seller – esse mesmo: o laureado da listagem dos “mais vendidos”. O leitor continuará sendo aquele humilde e anônimo aficionado da leitura e letramento, que, ao consumar o ato de leitura, dará fôlego à fonte perante a posteridade. E à riqueza do pensamento humano se acrescentarão os efeitos deste ato de civilidade e amor à dignidade de sua geração.

– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/19.

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