FOLCLORE INDÍGENA - PARTE III

1---Origem tupi-guarani - Lenda paranaense das cataratas, onde NAIPI e TAROBÁ são castigados por viverem um amor proibido. O rio Iguaçu corria tranquilo sem quedas nem cataratas. Os índios guarani, habitantes do lugar, adoravam o deus Tupã e seu filho M'Boi, o deus serpente que vivia nas águas e a quem eram oferecidas em sacrifício as mais belas virgens da aldeia. No dia em que a jovem NAIPI seria sacrificada, TAROBÁ, um guerreiro apaixonado, roubou-a e tentou fugir descendo o rio numa canoa. Enfurecido, M'Boi penetrou nas entranhas da terra, contraiu seus músculos e, abrindo uma cratera, agitou violentamente as águas, formando uma enorme cachoeira - NAIPI transformou-se numa rocha, condenada a ser fustigada pelas águas da Garganta do Diabo; Tarobá converteu-se numa palmeira e desde então contempla sua amada por toda a eternidade.

2-BOITATÁ, versão brasileira do fogo-fátuo, chama espontânea de gases emanados de pântanos ou de sepulcro, mito explicativo existente em quase todas as culturas. Também conhecida como Batatá, Batatão, Já-de-lá-foice ou Fogo Corredor, é uma cobra envolta de fogo, que mora nas águas e protege a vegetação dos campos. O bicho aparece em forma de tora em brasa, às vezes de pássaro; em outra versão, é espírito de gente ruim solto na terra, toca fogo nos campos e perturba muito saindo pelo espaço como rojão ou tocha acesa, mata os animais e lhes come os olhos, daí que brilha na noite, pois absorve a luz de todos os olhos que devora. Na região sulina, os cavaleiros evitam cavalgar à noite, temendo encontrá-lo. Boitatá, cobra de fogo em guarani: de "boi", cobra + "tatá", fogo. O padre Anchieta escreveu sobre ele numa carta em 1560.

3-Os índios bororo contam que as ESTRELAS são meninos que roubaram e comeram toda a farinha de milho preparada pelas mulheres da tribo. Com medo do castigo, os garotos fugiram para o céu, trepando por um cipó, e lá de cima perceberam que as mulheres raivosas também subiam para alcançá-los. Cortaram o cipó, fazendo com que elas caíssem ao chão e se transformassem em animais selvagens. Como punição maior, foram condenados a ficar olhando fixamente aqui para baixo, todas as noites, sem nunca poderem retornar.

4-Mara, a FEITICEIRA DA LUA, era uma menina raquítica, criada por um pajé, e adquiriu poderes maiores que os dele. Representa a bruxa nativa, conhecedora de ervas e feitiços. Depois de morta e enterrada, do seu corpo nasceram plantas venenosas que as feiticeiras indígenas ainda usam. Esta mulher da magia desperta o poder de persuasão e a capacidade de alterar o rumo dos acontecimentos. Elementos: terra e ar. Cores: preto e branco. Símbolos: coruja e aranha. Talismã: qualquer pena de ave negra usada como brinco ou um colar. Ritual: numa noite sem lua, acenda um pedaço de carvão em um recipiente e ao redor docarvão queime um pouco de tabaco. Depois, leve o recipiente até a janela e sopre as cinzas do tabaco sobre uma pena negra, jogando seu pedido ao vento.

5-Numa tribo do Sul, um jovem se apaixonou por uma índia de grande beleza, a mais formosa da tribo, e foi correspondido, mas, ao pedi-la em casamento, o pai da moça exigiu dele provas de força O rapaz ofereceu provas de amor - o último pretendente disse que ficaria nove dias de jejum e morreu no quinto. Este ofereceu também nove e toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta, dia e noite vigiado para que não saísse nem fosse alimentado. A índia chorou e implorou a deusa Lua que o mantivesse vivo para o seu amor. Ao quinto dia, pediu ao pai que o liberasse, mas este respondeu que ele era arrogante e esperaram até a última hora do nono dia. Quando abriram o couro, Jaebé saltou ligeiro, olhos brilhantes, sorriso com uma luz mágica, pele limpa e com perfume de amêndoa. Todos se espantaram e mais ainda quando o jovem, ao ver a amada, se pôs a cantar como um pássaro, enuanto seu corpo aos poucos se transformava num corpo de avezinha. Exatamente neste momento os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, logo também metamorfoseada em pássaro, ela voou atrás de Jaebé e sumiram na floresta para sempre. Foi assim que nasceu o JOÃO-DE-BARRO. A prova do grande amor que uniu esse par está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes.

6-KAMATAPIRARI, mulher do chefe de uma tribo mehinaru, liderou uma revolução feminina na tribo. Os homens tinham ido pescar, demorando demais a voltar, e as mulheres morreriam de fome. Um dia, todas resolveram passar no corpo um óleo de casca de madeira, cantaram, dançaram e depois foram embora da aldeia. Quando os homens voltaram, era tarde - sob a chefia de Kamatapirari, elas haviam aprendido a usar o arco e a flecha, a pescar e caçar - tiveram sua própria aldeia, só de mulheres. Ainda hoje, no Xingu, é feito um ritual que lembra a saga dessas guerreiras. Com espírito de luta, as amazonas guerreiras da mata regem os processos de transformação e trazem forças para vencer desafios. Elementos: fogo e ar. Cores: amarelo, vermelho e negro. Símbolo: cabelos. Talismã: muiraquitã (pequena rã). Ritual: saia de casa e se agite - faça arder pequena fogueira ao meio-dia, escreva em um papel o que paralisa a sua vida e queime nas chamas. Em seguida, envolva num quadrado de pano amarelo uma pimenta dedo-de-moça, seca, e costure com linha vermelha - traga o saquinho junto aos seios por uma semana e depois o plante após a primeira tempstade com raios.

7-Os índios kaigangs, seminômades da região catarinenses, contam que seus ancestrais construíram uma escada com laterais de corda e degraus de flecha para chegarem aos céus com o objetivo de fugir das ONÇAS que aterrorizavam a aldeia. O deus Tupã ajudou, criando degraus de cipó, mas quando os índios foram subir, viram que os felinos estavam lá em cima. Para evitar que as onças descessem e fizessem mais vítimas, um casal valente foi até o céu e nunca mais foi visto.

8-O UIRAPURU, cantor das florestas amazônicas, é um pássaro de canto tão lindo e melodioso que os outros ficam quietos e silenciosos na mata, só para ouvirem os gorjeios maravilhosos, por isso os índios e os sertanejos o acham um ser sobrenatural. "Uirapuru" significa um pássaro que não é passaro. Depois de morto, seu corpo é considerado talismã, que dá felicidade a quem o possui. Há sobre ele uma lenda que se conta no Sul. Havia uma tribo de índios onde um cacique era amado por duas índias belas e jovens. Não sabendo qual escolher, prometeu casar-se com a que tivesse melhor pontaria - as duas atiraram as flechas, só uma acertou o alvo e casaram. A índia Obraci chorou tanto que suas lágrimas formaram uma fonte e um córrego; depois, pediu a Tupã que a transformasse num pássaro para poder visitar o amado sem ser reconhecida, mas verificando que ele amava a esposa, abandonou aquele lugar, voou para o Norte e foi parar na Amazônia. Para seu consolo, Tupã lhe deu um canto melodioso, por isso ela canta sempre para esquecer suas mágoas, fazendo com suas notas maviosas calar os outros pássaros.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 08/09/2018
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