UNIDADE ARTÍSTICA EM "NOVOS CONTOS DA MONTANHA" - PARTE III

NÍVEL DE NARRAÇÃO - ARCAÍSMO - situação é codificada nas estórias: "Era uma vez..." "Isto aconteceu..."

TORGA tradicional (= era uma vez) - alguns contos: A - Riba-Dal, terra de judeus / C - Nunca houve em toda a montanha pastor como o Gabriel / D - Era de sua natureza um tipo macambúzio / F - Foi no Doiro, numa cava / G - Foram uns amores singulares, aqueles / R - O tempo em São Cristóvão anda devagar / T - O Marcos apareceu em Valdigem a pedir / S - Tinha cada um o seu sonho para a festa de Santa Eufêmia.

NARRADOR apessoal não se imiscui na fala dos personagens, em geral personagens em discurso direto. ----- K, NATAL, um só actante, não possibilidade de diálogo: variante, discurso imdireto livre; que acontece, é interiorização de Garrinchas - quase desaparece o narrador - segundo BENVENISTE (linguista francês), "história e não discurso".

DE TODOS os 22 contos - armadura, núcleo temático (LÉVI-STRAUSS) - 1-nível das funções - natural X social, mostrado em 3 sequências em cada conto, percepção na leitura - invariante que domina, segue ordem de equilíbrio-desequilíbrio-reequilíbrio, podendo e havendo mesmo inversões em alguns contos e ainda flash back --- sequências: equilíbrio - invariante de homem = terra; desequil[ibrio - conflito natural X social; reequilíbrio, volta da paz, vitória de natural sobre social ----- 2-nível das ações - homem X terra. ----- CÓDIGO DOMINANTE (LÉVI-STRAUSS) - campo natural sobre social: natureza não pode ser perturbada por ninguém.

TRADIÇÕES POPULARES (natural) - linguagem: provérbios, expressões, rifões (adágios por vezes grosseiros) --- O, A CONFISSÃO, um homem é um homem e quem não deve não teme / E, O CAÇADOR, nem tugir nem mugir / L, NÉVOA, potencial-latente a expressão "tal pai tal filha" / P, O MILAGRE, casamento e mortalha no céu se talha - andamos a trabalhar para o bispo / Q, O ARTILHEIRO, casa com a filha do rei e as pazes eu as farei / R, TEIA DE ARANHA, a morte é senhora de baraço e cutelo - evaporado da terra por obra e graça - que a terra lhe seja leve - ao cabo e ao rabo, o defunto fora um homem / S, A FESTA, amor com amor se paga - não se aflija que ninguém me come / T, O MARCOS, caldo de panela / U, A CAÇADA, raios te partam, deu-se a espertina, filho de uma perna - o que lá vai, lá vai... ----- NATURAIS também expressões típicas de Trás-os-Montes (linguagem oral) - Q, O ARTILHEIRO, que reca, sua galdrona, safardana, fadunças, tontiço / T, O MARCOS, balandrau, gabiru, avezar, láparo, lura, dou-lhe cabo de canastro, cotim / V, O SENHOR, cabadulhos.

RELIGIOSIDADE ao alcance do cotidiano em quase todos os contos - dividida em 2 níveis: 1-sobrenatural, crendices, bruxarias --- 2-cristandade ----- Nível 1 - P, O MILAGRE, esconjuro, sal nas encruzilhadas, garrafa de Satanás, Alto Cabeço (serra é lugar escolhido para feitiço ou desamarro), mulher "voou" no abismo / F, O LEPROSO, aplicação de azeite na fonte da Senhora da Agonia (expectativa do milagre para o declaradamente incurável) / M, RENOVO, procissão em busca do final da epidemia ----- Nível 2 - R, TEIA DE ARANHA, "requiescat in pace... amen" (latim) / S, A FESTA, "o céu desceu um pouco, a montanha sobe mais, e ninguém sabe ao certo a que reino pertence". ----- Para DUFRENNE (filósofo e esteticista francês), montanha = universo mágico, lugar privilegiado - também no P, O MILAGRE, o esconjuro é no alto da montanha / I, O SÉSAMO, mito da palavra mágica / S, A FESTA, peregrinação religiosa é pretexto para canções particulares / V, O SENHOR, fundo religioso, mesmo sendo uma desmistificação do divino / K, NATAL, noite de consoada, véspera de Natal / O, A CONFISSÃO, intenção inicial é reza a antepassados. ----- DUPLA RELIGIOSIDADE - A, O ALMA-GRANDE, Evangelho e Torá valem menos que a vida humana, esta, sim, realmente importante; também desmistificação. ----- PADRES - menção constante ou presença ativa (diálogo) e/ou igrejas e sinos - A, O ALMA-GRANDE / C, O PASTOR GABRIEL / D, O REPOUSO / F, O LEPROSO / G, DESTINO / O, A CONFISSÃO / S, A FESTA / V, O SENHOR ----- sino é mensageiro da aldeia: incêndio, batizado, festa, luto, enterro etc. - tradição, antiguidade, regionalismo ----- festas religiosas a pretexto de crença, embora mais folclore, que verdadeira fé - D, O REPOUSO, Senhora da Boa-Morte / K, NATAL, ceia / S, A FESTA, peregrinação por Santa Eufêmia. ----- SANTOS nomeando cidades - F, O LEPROSO, São Gibrão / R, TEIA DE ARANHA, São Cristóvão.

"FAMILIA" TRANSMONTANA - MIGUEL TORGA delara: "todos 'irmãos', uma só carne na alegria e na lágrima" --- A, O ALMA-GRANDE, Tio Alma-Grande / B, FRONTEIRA / ti Zé, ti Tafona / Q, O ARTILHEIRO, tI Adriano / H, O LOPO, ti João etc. --- tio, mais distância e cerimônia; tio, mais distância e cerimônia --- ti, mais íntimo, expressão que designa respeitosa e carinhosamente pessoa mais velha como se fosse realmente familiar: termo constante em contos.

TEMPO - via de regra cronológico, alguns flash back explicando razão do fato corrente: ou narrador ou memória do personagem. Retrocessos: D, REPOUSO, "fizera..." / H, O LOPO / L, NÉVOA / N, O REGRESSO / O, A CONFISSÃO / Q., O ARTILHEIRO ----- ATEMPORALIDADE, costume, o sempre na aldeia - verbo no tempo presente - dia a dia, o invariável do contexto: A, Riba-Dal é terra de judeus. O padre perdoa, baptiza, ensina... Dos servos de Moisés, o maior de que há memória é o Alma-Grande. / B, Quando a noite desce, Fronteira desperta. / C, Nunca houve em toda a montanha pastor como o Gabriel (=sempre há pastores, embora nenhum se lhe assemelhe) / R, O tempo em São Cristóvão anda devagar. As terras são (etc.)......... As pessoas que lá moram, têm uma paciência de relojoeio... ----- INVARIABILIDADE, invariável está no natural (homem que colhe) - 1-trato com a terra, que é sempre o mesmo, pois a vida é ciclo sempre renovado: o semear/colher/semear/colher... - C E I --- 2-criança que nasce, também renovação e colheita - J K L M Q B V --- 3-morte que não se efetua é colheita, renovação da vida - A M U V --- 4-costumes locais, eternização pode ser colheita, renovo - B --- 5-colheita é a terra, a vitória do natural - D G K L N P R T --- 6-colheita pode ser qualquer paz - F H K N (para aldeia) O P Q S U V.

ESPAÇO dominante - exterior mostra relações do homem com a terra (vegetais, animais), complementações no interior (antes de sair para o campo ou regressar do campo). ----- Contos "exteriores" (dominantes) - B C D E F G H I J L N O P Q R S T U --- Contos "interiores" (variantes) - A K M V.

INOCÊNCIA é natural - homem, mediador da mensagem dele mesmo (LÉVI-STAUSS, situação antes e depois), mas criança é construtora dessa mediação, mediadora do código e mostra o "depois" - A B D I J (Menino Deus) M (rebatizado) N T Q (luta por crítica ao filho e a si mesmo) V (principalmente, porque é a realização de um parto) P (filho não nascido, criança ausente é mediador latente, mas negativo no contexto).

(Segue.)

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 22/09/2018
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