Freud e o Sonho

Freud e o Sonho

Susanne Langer resgata Freud, como o primeiro a ter estudado sistematicamente os aspectos formais e o funcionamento da forma significante, através de seu interesse no funcionamento do sonho:

As leis de combinação ou lógica, de formas puramente estéticas - sejam elas formas de espaço visível, tempo audível, forças vivas, ou a própria experiência - são as leis fundamentais da imaginação. Elas foram reconhecidas há muito tempo pelos poetas, que as enalteceram como a sabedoria do coração (...), e pelos místicos, que acreditavam que elas eram as leis da realidade. Mas, como as leis da linguagem literal, elas são apenas cânones de simbolização; e seu estudo sistemático foi empreendido pela primeira vez por Freud. (...) Uma vez que o interesse de Freud por tal pesquisa era apenas incidental a seu projeto de descobrir o motivo escondido de uma fantasia, suas próprias formulações sobre esses cânones acham-se espalhadas por muitas centenas de páginas de análise dos sonhos. Mas, resumidas brevemente, de-monstram serem aquelas mesmas leis que Cassirer postulava para a consciência mítica (...). (Langer, S. 1980: 250)

Freud encontra similitudes entre o sonho e a escritura chinesa:

Na XV aula das Lições introdutórias, incertezas e criticas, (Freud, S. 1973: 2264) pode-se seguir seu cotejamento entre o signo onírico e o ideograma chinês; para ele, o sonho é um signo contextual, assemelhando-se ao ideograma da escritura chinesa, cujos caracteres ou elementos não podem ser lidos pelo seu valor pictórico e sim pela sua relação com todos os elementos que o compõem, num contexto dado. A composição do sonho que se assemelha ao ideograma é o conteúdo manifesto.

A língua e a escritura chinesa, embora muito antigas, são ainda empregadas por quatrocentos milhões de seres humanos. Não acreditem que eu as domine, documentei-me sobre elas pela esperança de encontrar em suas particularidades algumas analogias com as indeterminações dos sonhos, esperança que se confirmou. A língua chinesa encontra-se de fato, cheia dessas indeterminações. (Freud, S. 1973: 2265)

O que Freud chama de indeterminações são palavras de duplo (ou múltiplo) sentido antitético. É o contexto em que a palavra se insere que determinaria o seu sentido. Mesmo que o contexto privilegie um sentido Y, os signos oníricos e os ideogramas conservariam a ambiguidade de sentido, pois esses signos são regidos por uma lei que Freud chama de lei da simultaneidade.