Minha folha em branco

Minha folha em branco

Incomoda-me ver uma folha em branco a me olhar.

O que está a querer? A tinta da caneta ou a tinta de um pincel a desenhar? Ou diz: fique à vontade, apenas comece o que tem pra me contar? Como não sei desenhar, atrevo-me a rabiscar. Conto-lhe o que estou sentindo, do que estou desistindo e o que resolvi enfrentar. Quando me faltam as palavras, ela respeita a pausa e, me olhando, muitas vezes me diz que ainda há espaços a preencher e linhas a trilhar. Outras vezes, quando recebo mais um coice da vida, nem quero encará-la, mas logo, pela necessidade de me aliviar, recorro a ela e à caneta para desabafar e me renovar.

De vez em quando lhe peço desculpas, quando um pingo dos olhos cai, e ela, mesmo manchada, absorve e convida a continuar.

Não imagino a vida sem a folha em branco, a quem recorro tanto para me expressar. Somos cúmplices de tudo; do que me incomoda, do que me alegra e do que ainda esperar; até de segredos, e estes, ficam apenas entre a caneta, ela e eu.