2- Literatura e Ficção. Formas de transmissão das ‘narrativas’. As grandes viragens culturais da História da Cultura – A Imprensa; os Comboios e a expansão da Comunicação; a Revolução Informática

= FICÇÃO e HISTÓRIAS TRADICIONAIS

Em Teoria Literária, dizemos que as histórias literárias são NARRATIVAS.

Em geral, as histórias literárias são FICÇÃO.

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As FORMAS de TRANSMISSÃO das NARRATIVAS:

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As histórias podem ser contadas ou ORALMENTE, ou POR ESCRITO - ou pela IMAGEM (Banda-desenhada, cinema, TV...)

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As histórias contadas ORALMENTE são, em geral:

as narrativas orais, ou CONTOS TRADICIONAIS, que foram transmitidos ORALMENTE de geração em geração - até que houve autores que acharam essas narrativas tão interessantes que as "recolheram" e as registaram por escrito.

Nesta categoria vou incluir:

=Os Contos Tradicionais, transmitidos de uma geração à geração seguinte desde tempos imemoriais;

= As Fábulas, igualmente antiquíssimas e também transmitidas oralmente;

= As Lendas, do mesmo modo, narrativas de origem imemorial, transmitidas de pais a filhos ao longo dos tempos.

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Em geral, a estrutura da NARRATIVA ORAL, ou CONTO TRADICIONAL, é diferente da estrutura da narrativa literária.

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Uma NARRATIVA LITERÁRIA é uma obra de FICÇÃO:

= é um conjunto de Factos ficcionados

= que envolvem uma ou mais Personagens

= que evoluem num Tempo

= e num Espaço.

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A NARRATIVA LITERÁRIA é narrada na forma escrita:

Pode ser:

Romance

Conto

Novela.

Teatro.

Da NARRATIVA de TRANSMISSÃO ORAL, ao LIVRO

Todos sabemos que o LIVRO é uma conquista da Humanidade.

O ser humano sempre CRIOU histórias.

Mas:

Em tempos imemoriais, as NARRATIVAS eram transmitidas oralmente, de pais a filhos. Desde tempos imemoriais, que as pessoas, à volta das fogueiras com que se aqueciam, contavam – narravam – os acontecimentos que as tinham impressionado durante o dia. Os acontecimentos mais marcantes eram certamente repetidos vezes sem conta, e iam ficando mais ou menos alterados à medida que iam ficando mais distantes, e que as lacunas provocadas pelo esquecimento, iam sendo preenchidas pela imaginação.

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Ainda em tempos tão recuados, as narrativas eram registadas em BAIXOS-RELEVOS, para que todas as pessoas que os vissem pudessem tomar contacto com a INFORMAÇÃO que eles continham.

Havia também os NARRADORES ITINERANTES, que iam de terra em terra, e eram acolhidos pelas pessoas importantes das cidades... Esses narradores, certamente para melhor captarem a atenção do seu público, faziam-se acompanhar por música...

= Além dos BAIXOS-RELEVOS, os antigos SUMÉRIOS descobriram como registar em PEQUENAS PLACAS DE ARGILA, a "informação" que queriam transmitir: a sua História, as suas histórias, "cartas", registos de contas dos seus negócios... Têm sido descobertas, em pesquisas arqueológicas, antiquíssimas "BIBLIOTECAS":

A mais antiga será a de EBLA (na Síria), datada de cerca de 2.500 aC (1)

= Os EGÍPCIOS registavam o seu saber, a sua religião, a sua "literatura", nas paredes das pirâmides, e em PAPIROS.

= A ESCRITA ALFABÉTICA foi inventada pelos antigos FENÍCIOS - povos do Médio Oriente, localizados onde são actualmente Israel e a Palestina.

ESTE foi um enorme progresso na transmissão de qualquer tipo de "informação".

= Então, a "informação", além dos já mencionados baixos-relevos, e estatuária, podia ser transmitida por escrito:

Os textos eram escritos à mão, em ROLOS de PAPIRO ou PERGAMINHO.

Este tipo de registo era, obviamente, muito raro:

Por um lado, porque pouquíssima gente sabia ler... Por outro lado, porque era um processo muito dispendioso.

Assim, muitas colecções destes "rolos" eram guardadas preciosamente pelos reis antigos: Uma colecção famosa ficou conhecida como a BIBLIOTECA de ALEXANDRIA (2).

= O PAPEL foi descoberto na China.(3)

A CÓPIA MANUSCRITA, na Europa, prolongou-se por toda a IDADE MÉDIA, e PRINCÍPIOS da MODERNIDADE.

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Assim, vemos que a INVENÇÃO da ESCRITA foi um grande avanço da Humanidade...

...embora não tenha acontecido ao mesmo tempo em todas as civilizações antigas...

= Até que... passados séculos...

...Na China, alguém inventou um processo novo, um novo "suporte" onde registar a "mensagem" ! E surgiu o PAPEL! No entanto, os registos continuavam a ser...manuscritos.

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...Finalmente, já no século XV (dC), surge alguém que cria um processo que iria revolucionar as formas de transmissão do SABER e da CRIAÇÃO artística: Johannes GUTENBERG (1400-1468):

GUTENBERG inventou a IMPRENSA.

Em pouco tempo, começaram a surgir LIVROS IMPRESSOS!

Claro, poucas pessoas sabiam ler, e os livros eram ainda caros, e raros. Mas a IMPRENSA propagou-se rapidamente pela Europa (4).

A invenção da Imprensa foi, como bem se pode compreender, uma enorme revolução no campo da expansão da Cultura, tanto de uma cultura erudita, como de uma cultura de carácter ficcional, como de uma cultura de carácter mais popular!

Mas foi uma REVOLUÇÃO:

...““GUTTENBERG foi pioneiro na utilização do tipo móvel e a impressão tornou-se viável. A famosa BÍBLIA de Guttenberg de 42 linhas foi produzida por volta de 1455; três anos mais tarde, abria uma tipografia em Estrasburgo; vinte e cinco anos depois, em 1480, havia mais de uma dúzia de tipografias a trabalhar em Roma; e, no final do século XV, estima-se que cem tipografias estivessem a trabalhar em pleno em Veneza. Por essa altura, cerca de quarenta mil títulos tinham aparecido impressos. Um século antes do nascimento de Giordano Bruno existiam menos de trinta mil livros, todos eles escritos à mão; quando ele ensinava e viajava por toda a Europa, em finais do século XVI, havia já um inventário de cerca de cinquenta milhões de livros impressos.”” (5)

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Nos finais do século XVIII e inícios do século XIX, acontece a chamada REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (a primeira revolução industrial). Surge a máquina a vapor. Surgem os CAMINHOS-de-FERRO.

Os COMBÓIOS conheceram um progresso relativamente rápido. Até então, em geral, as pessoas não saíam além da sua terra natal. E se o faziam, não se deslocariam além da povoação mais próxima...

Com este progresso, as COMUNICAÇÕES tornaram-se rápidas como nunca até então!

Além de permitirem às pessoas a possibilidade de VIAJAR (6), os COMBOIOS permitiram que os JORNAIS chegassem com regularidade aos confins dos países onde eram publicados!

A Revolução Industrial – a 1ª Revolução Industrial – surgiu em Inglaterra. E os COMBOIOS depressa foram instalados em toda a Europa.

Permitiram uma ligação relativamente rápida entre a Europa e o Próximo e Médio Oriente.

Nos EE UU da América, ligaram a Costa Leste à Costa Oeste.

Esta facilidade de deslocações, e de comunicações, permitiu um desenvolvimento cultural nunca vivido até então. (7)

= Nos nossos dias, a informação pode chegar a todo o lado, através dos MEIOS INFORMÁTICOS.

= Quem tiver gosto em saber muito mais sobre este tema, poderá ler a obra "O MUNDO DA ESCRITA", de Martin Puchner. a obra foi publicada pelo Círculo de Leitores, na colecção Temas e Debates, em 2018.

Esta obra foi traduzida para Português. Será fundamental para os estudantes que se interessam por saber mais do que o que vem nos livros de escola!

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E assim, se não fossem estas extraordinárias criações humanas, a ESCRITA, a IMPRENSA, a Comunicação terrestre através dos COMBÓIOS, e actualmente a INFORMÁTICA, não poderíamos agora, os meus queridos leitores e eu, estarmos aqui a trocar estes breves textos!

Fica então aqui registado o meu "muito obrigado", o meu agradecimento, a todas as pessoas que aqui venham fazer uma visita!

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Informação complementar:

As fontes que aqui indico, são apenas um simples ponto de partida para uma informação mais alargada:

(1):VER:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ebla

(2):VER:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_de_Alexandria

(3):VER:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cai_Lun.

(4):VER:

Gutenberg: https://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Gutenberg

História da imprensa: https://pt.wikipedia.org/wiki/Imprensa

(5):

Michel White, "GIORDANO BRUNO, O FILÓSOFO MALDITO"

Planeta Editora, Lisboa, 2008

pp29/30

Esta obra traça um bem documentado panorama sobre o RENASCIMENTO EUROPEU, em contraste com a cultura e o ambiente da Idade Média.

(6):

As estradas eram irregulares, e atravessavam zonas inóspitas. Havia que ter cuidados especiais, pois ocorriam encontros com os temidos lobos, e as não menos temidas emboscadas de salteadores...

Em Portugal, um desses salteadores entrou na Lenda... Ficou conhecido como Zé do Telhado (1818-1875).

Para se ter uma ideia do que eram as dificuldades e os perigos vividos nas deslocações, nos tempos anteriores à implantação dos comboios – nos tempos em que se viajava de “diligência” – recordo duas narrativas que ouvi na minha infância.

“Quem por acaso tivesse de se deslocar da cidade de Bragança (cidade do Norte de Portugal, região altamente montanhosa) até à cidade do Porto, muito prudentemente, fazia testamento.”

Quem fazia esta narrativa, era uma Senhora, prima de minha Mãe, a Prima Maria da Luz, nascida na última década do século XIX (1890-1976)...

Também minha Mãe (1914-2009), igualmente natural do Norte do País, recordava uma viagem que fizera na sua infância, com sua Mãe (1879-1929), e suas irmãs. Por qualquer razão, minha Avó teve que se deslocar, ela e as meninas, durante uma viagem nocturna. Minha Mãe contava, ainda com emoção, que durante a viagem, de carroça, tinham sido escoltadas por lobos ameaçadores... Recordava o medo que sentiram, e a recomendação do carroceiro, que dizia incessantemente: “Fale alto, Srª D. Maria Augusta. Fale alto. Não se cale. Continue a falar. Eles assim mantêm-se à distância!”

E a viagem chegou em bem ao seu termo, com minha Avó e as filhas a rezarem Até-Marias a seguir uma às outras, em alta voz.

(7)

Histoire des Chemins de Fer

https://fr.wikipedia.org/wiki/Histoire_des_chemins_de_fer

*** Quanto à história de Zé do Telhado, pode consultá-la aqui:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Z%C3%A9_do_Telhado

© Myriam Jubilot de Carvalho

2020

Texto actualizado em 24 de Abril de 2023

Myriam

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 15/11/2020
Reeditado em 23/04/2023
Código do texto: T7112132
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