7- MIGRAÇÕES do Saber – A difusão do Conhecimento e da Fantasia

Nesta nossa viagem por esta introdução aos estudos literários, começámos por ver que desde muitíssimo cedo, na História da Humanidade, o ser humano não viveu estanque, não viveu confinado ao sítio onde nasceu:

Já vimos isso através da difusão da Cultura Oral Tradicional.

No capítulo sobre as LENDAS (capítulo 4.3), deixei um LINK de um artigo sobre as LENDAS do MAR TENEBROSO:

Trata-se de lendas que povoaram séculos, senão milénios, do Mundo Antigo e Medieval (1). Para além da informação, preciosa, contida nesse artigo, ele demonstra essa realidade de que as lendas se propagavam pelo mundo antigo... Essa disseminação não decorria de modo algum tão rápida como acontece actualmente... Mas acontecia!

As pessoas do mundo antigo, tal como nós na nossa actualidade, movimentavam-se! Havia viajantes mais ou menos aventureiros, havia trocas comerciais...

Claro que não havia aviões, nem comboios, nem internet...

Mas havia quem quisesse conhecer realidades diferentes das da sua terra natal!

Havia quem se entregasse ao comércio – embora nessas épocas tão remotas, o comércio se processasse de modos bem diferentes dos actuais!

Havia casamentos dos poderosos, dos reis... As noivas não iam sozinhas do seu país natal para o país do seu consorte –levavam aias e aios, sábios, criados (escravos), uma comitiva de acompanhantes...

A educação dos príncipes era entregue a escravos “especializados” no manejo das armas e na transmissão do Conhecimento, que se fazia na base da transmissão oral...

Os escravos vinham de todas as origens – desde os prisioneiros de guerra até aos condenados por dívidas... Tinham variadas origens geográficas... traziam, pois, conhecimentos diferentes de diferentes terras...

AS CARAVANAS

Há algum tempo, pus-me a pesquisar, aqui na internet, sobre rotas comerciais antigas:

Havia rotas comerciais que cruzavam o mundo, e os mares, desde a Antiguidade.

As caravanas levavam muito tempo a ser organizadas, provavelmente cerca de um ano... Para as viagens terrestres, o animal de transporte, tanto de cargas como de pessoas, era o camelo. Pois, como se sabe, trata-se de um animal resistente ao esforço físico, às intempéries, e à fome.

De link em link, fui descobrindo imensas coisas.

Quem conduzia as caravanas, conhecia os caminhos que teria que percorrer.

Havia onde descansar e mudar os cavalos, a intervalos de uns 40 Km. Eram os “caravançarai”. Eram verdadeiras fortalezas, isoladas, em terrenos desérticos. Pois os seus responsáveis tinham que estar preparados pera a defesa em caso de ataques de assaltantes e pirataria...

Descobri imensas rotas, de que aqui deixo a indicação.

Quem estiver interessado, poderá pesquisar na internet!

Rota da Seda: Em geral fala-se da “rota da seda” – talvez porque seja a mais conhecida... Mas havia vários percursos, uns mais a norte, outros derivando para sul... Ao longo da rota da seda, muitas cidades surgiram!

Rota da seda e das pérolas

Rota das especiarias

Rota do incenso, e resinas

Rota do âmbar

A rota do âmbar, desde tempos pré-históricos, atravessava a Europa de Norte a Sul, ligando o Mar Báltico ao Mar Mediterrâneo!

Rota equestre do chá

Rota do sal, no Sahara

Rota dos escravos, atravessando o Sahara

Rota do estanho

Rota do oceano Índico

= Por exemplo, cerca de 300aC, já a rota através do Oceano Índico ligava a Índia à Ásia – até à China, e até á Arábia e África oriental.

Rota do ouro, no Sahara

Rotas dos Vikings

Rota do comércio, no Egipto antigo

Rota do Mar Egeu

Rota das porcelanas

Camino del Rey, na Síria

Rota de Roma para Constantinopla

Rotas do Al-Andalus (na Península Ibérica)

Em épocas mais próximas de nós, ainda podemos assinalar:

Rotas do ouro branco (o açúcar)

= Os Romanos, por exemplo, abriram estradas, através do seu império... Ainda actualmente, se encontram restos, vestígios do empedrado dessas estradas abertas para facilitar o avanço dos exércitos... Até ficou o provérbio:

“Todos os caminhos vão dar a Roma”.

Uma curiosidade:

A técnica de aproveitar a energia eólica terá tido origem na antiga Pérsia. A primeira notícia de um moinho de vento, na Europa, remonta ao século XI: Encontramos essa informação, num poema de um poeta do Al-Andalus, que viveu em Alcabideche (hoje cidade do concelho de Cascais), cidade nessa época pertencente ao Reino de Badajoz. O poeta, Ibn Mucana, retirou-se da corte, e foi viver na tranquilidade da quinta que possuía em Alcabideche... E aí temos um exemplo da influência oriental, que vem ter ao território que hoje é Portugal – na extremidade ocidental de algum antigo ramo da rota da seda! (2)

VIAGENS DE “INVESTIGAÇÃO” e ESTUDO. OS GRANDES VIAJANTES.

Viajava-se para comerciar, mas também houve “estudiosos”. Alguns dos mais famosos são:

= HERÓDOTO

Heródoto viveu de 485aC a 425aC (século VaC) ficou conhecido como geógrafo, e historiador. (3)

= Al IDRISI

Este grande viajante do século XII, era natural de Ceuta (1110-1165).

Foi geógrafo, cartógrafo e botânico.

Ficou famoso pela qualidade dos mapas que elaborou. (4)

= MARCO POLO

1254-1324.

Não se sabe ao certo se ele seria natural de Veneza...

Nasceu numa família de mercadores. Quando tinha dezassete anos, seu pai e tio levaram-no numa das suas viagens à China. A viagem e a permanência na China perfizeram, ao todo, uns 24 anos, pois abrangem desde 1271 a 1295. No seu regresso a Veneza, Marco Polo escreveu o seu livro de memórias de viagem, que ficou conhecido como “O Livro de Marco Polo”. (5)

= IBN BATUTA

Outro grande viajante que ficou famoso, foi o norte-africano IBN BATTUTA (1304-1377 ). Entre 1325 e 1357 – durante cerca de 32 anos – percorreu um total de cerca de 120Km:

“Partiu da sua cidade natal em 1325 para a sua primeira viagem, cuja rota englobava o Egito, Meca e o Iraque. Mais tarde, correu o Iêmen, a África Oriental, as margens do rio Nilo, a Ásia Menor, a costa do mar Negro, a Crimeia, a Rússia, o Afeganistão, a Índia - onde visitou Calecute, por exemplo -, as ilhas da Sonda (Indonésia) e a região de Cantão, na China.” (6)

Nos últimos anos de vida, esteve em Granada (Sul da Península Ibérica). Realizou depois a travessia do deserto do Saara pelo famoso e mítico trilho das caravanas de Tombuctu e adentrou no Império do Mali.”(5)

*

*

(1) Mitos, Medos e Geografia Fantástica dos Mares Antigos e Medievais

https://eg.uc.pt/bitstream/10316/44858/1/MITOS_MEDOS_E_GEOGRAFIA_FANTASTICA_DOS_M.pdf

(2): Ibn Mucana e os moinhos de vento

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ibn_Mucana

Tradução do mesmo poema, pelo poeta e arabista português Adalberto Alves, na sua obra:

“O meu coração é árabe”,

Editora Assírio & Alvim

Página 171

(3) Heródoto:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%B3doto

(4) Al-Idrisi

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dreses

(5) MARCO POLO

https://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Polo

(6) Ibn Batuta:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ibne_Batuta

INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR:

PETER FRANKOPAN – “As Rotas da Seda – Uma Nova História do Mundo”

Ed. Relógio d’Água, 2018.

No cap 1 desta obra, intitulado "A criação da Rota da Seda", página 21, diz-se que:

* o êxito de Heródoto devia-se ao seu espírito aberto;

* o maior dos reinos da antiguidade foi o império persa, caracterizado devido a:

- tolerância e justiça

- burocracia qualificada

- SISTEMA DE ESTRADAS

- Agricultura e técnicas pioneiras de irrigação

- Comércio

C. FINZI – “Nos Confins do Mundo” – Edições 70, 1982

Na internet:

Interactions Between Nishapur And The Silk Road In The Sasanian Period

DEPARTMENT OF ARCHAEOLOGY, UNIVERSITY OF TEHRAN

https://www.sid.ir/En/Journal/ViewPaper.aspx?ID=470755

(Período Sassânida – o último período da Pérsia pré-islâmica, já na “era cristã”: 224 – 651 dC)

© Myriam Jubilot de Carvalho

2020

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 01/12/2020
Reeditado em 05/12/2020
Código do texto: T7125211
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