GÊNEROS LITERÁRIOS - O QUE É E QUAIS SÃO? - Parte III

3. GÊNERO DRAMÁTICO

Vem da palavra drama, que em grego significa “ação”. A esse gênero pertencem os textos em prosa ou em poesia produzidos para encenação, isto é, para serem representados na forma de peças teatrais. Esse tipo de texto tem como característica a apresentação ou encenação de uma história para um público espectador e deve possuir elementos como: diálogo, tempo e espaço. Os acontecimentos são apresentados através da fala e da expressão dos atores que encarnam os personagens da narrativa. Esse gênero compreende as seguintes categorias:

● Tragédia – representação de um acontecimento trágico, que seja capaz de provocar sentimentos de compaixão, comoção, piedade, medo, terror no espectador. Exemplo: Édipo-Rei, de Sófocles; Medéia, de Eurípedes.

● Comédia – representação de um acontecimento inspirado no cotidiano, na vida comum, em geral criticando hábitos e costumes da sociedade e que seja capaz de despertar o riso fácil, o escárnio do público. Exemplo: Assembléia de Mulheres, de Aristófanes; Menandro, de Antífanes.

● Tragicomédia – representação que mistura elementos trágicos e cômicos, unindo o real e o imaginário. Exemplo: Alceste, de Eurípedes.

● Farsa – pequena representação que possui um caráter ridículo e caricatural, criticando a sociedade e seus costumes. Ex: Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente.

É importante frisar que de acordo com a teoria de Aristóteles, o gênero dramático deveria ser sempre fiel às três unidades básicas: a de ação (a ação deveria ser cômica ou trágica, tudo deveria estar voltado para a resolução de uma única questão, sem ações ou tramas paralelas que nada tivessem a ver com o problema principal); a de tempo (o tempo de encenação não deveria exceder ao tempo dos acontecimentos apresentados, apresentar começo, meio e fim e não ultrapassar 24 horas) e a de espaço (a ação deveria se concentrar em um único espaço físico).

Para Aristóteles, o efeito da tragédia sobre o espectador seria sempre maior quanto mais ela obedecesse às unidades de tempo, espaço e ação. Efeito a que se dá o nome de catarse. Trata-se de um fenômeno que resulta de um processo crescente de tensão conforme a trama da tragédia vai se desenrolando diante do espectador, pois ela deveria seguir os seguintes passos: a primeira cena deveria apresentar um “problema” a ser resolvido; a sucessão de cenas seguintes deveria apresentar as “complicações” e “percalços” que surgem antes da resolução do problema e, por fim, o “clímax”, a última cena deveria apresentar a solução desse problema.

Assim, resolvido o problema esse processo de tensão é desfeito, causando uma sensação de alívio no espectador, o qual “viveu” por algum tempo os mesmos acontecimentos e sofrimentos junto com os personagens, participando do enredo.

Fragmento de Édipo-Rei, de Sofócles

Cena em que o profeta Tirésias revela a Édipo o nome do assassino de Laio, antigo rei de Tebas.

CORO

Acaba de chegar quem tudo nos vai descobrir! Trazem aqui o divino profeta, o único, entre todos os homens, que sabe desvendar a verdade!

(Entra Tirésias, velho e cego, guiado por um menino. Escoltam-no dois servidores de Édipo).

ÉDIPO

Tirésias, que conheceis todas as coisas, tudo o que se possa averiguar, e o que deve permanecer sob mistério; os signos do céu e os da terra... Embora não vejas, tu sabes do mal que a cidade sofre; para defendê-la, para salvá-la, só a ti podemos recorrer, ó Rei! Apolo, conforme deves ter sabido por meus emissários, declarou a nossos mensageiros que só nos libertaremos do flagelo que nos maltrata, se os assassinos de Laio forem descobertos nesta cidade, e mortos ou desterrados. Por tua vez, Tirésias, não nos recuses as revelações oraculares dos pássaros, nem quaisquer outros recursos de tua arte divinatória; salva a cidade, salva a ti próprio, a mim, e a todos, eliminando esse estigma que provém do homicídio. De ti nós dependemos agora! Ser útil, quando para isso temos os meios e poderes, e a mais grata das tarefas!

TIRÉSIAS

Oh! Terrível coisa é a ciência, quando o saber se toma inútil! Eu bem assim pensava; mas creio que o esqueci, pois do contrário não teria consentido em vir até aqui.

ÉDIPO

Que tens tu, Tirésias, que estás tão desalentado?

TIRÉSIAS

Ordena que eu seja reconduzido a minha casa, ó rei. Se me atenderes, melhor será para ti, e para mim.

ÉDIPO

Tais palavras, de tua parte, não são razoáveis, nem amistosas para com a cidade que te mantém, visto que lhe recusas a revelação que te solicita.

TIRÉSIAS

Para teu benefício, eu bem sei, teu desejo é inoportuno. Logo, a fim de não agir imprudentemente...

ÉDIPO

Pelos deuses! Visto que sabes, não nos ocultes a verdade! Todos nós, todos nós, de joelhos, te rogamos!

TIRÉSIAS

O que tem de acontecer, acontecerá, embora eu guarde silêncio!...

ÉDIPO

Visto que as coisas futuras fatalmente virão, tu bem podes predizê-Ias.

TIRÉSIAS

Nada mais direi! Deixa-te levar, se quiseres, pela cólera mais violenta!

ÉDIPO

Pois bem! Mesmo irritado, como estou, nada ocultarei do que penso! Sabes, pois, que, em minha opinião, tu foste cúmplice no crime, talvez tenhas sido o mandante, embora não o tendo cometido por tuas mãos. Se não fosses cego, a ti, somente, eu acusaria como autor do crime.

TIRÉSIAS

Será verdade? Pois eu! Eu é que te ordeno que obedeças ao decreto que tu mesmo baixaste, e que, a partir deste momento, não dirijas a palavra a nenhum destes homens, nem a mim, porque o ímpio que está profanando a cidade és tu!

ÉDIPO

Quê? Tu te atreves, com essa impudência, a articular semelhante acusação, e pensas, porventura, que sairás daqui impune?

TIRÉSIAS

O que está dito, está! Eu conheço a verdade poderosa!

ÉDIPO

Quem te disse isso? Com certeza não descobriste por meio de artifícios!

TIRÉSIAS

Tu mesmo! Tu me forçaste a falar, bem a meu pesar!

ÉDIPO

Mas, que dizes, afinal? Não te compreendo bem! Vamos! Repete tua acusação!

TIRÉSIAS

Afirmo que és tu o assassínio que procuras!

Referências Bibliográficas:

MOISÉS, M. A criação literária: poesia e prosa. 1 ed. São Paulo: Cultrix, 2015.

NICOLA, de J. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. 15 ed. São Paulo: Scipione, 1998.

OLIVEIRA, de B. C. Arte literária: Portugal – Brasil. 1 ed. São Paulo: Moderna, 1999.

SILVA e AGUIAR de MANUEL, V. Teoria da Literatura. 8 ed. Coimbra: Almedina, 2007.

SOARES, A. Gêneros literários. 7 ed. São Paulo: Ática, 2007. Série Princípios.

SÓFOCLES. Édipo-Rei. Trad. J. B. Mello e Souza. 6 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

Alessa B
Enviado por Alessa B em 28/08/2021
Código do texto: T7330420
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