As dores de Maria (II)

QUADRIVIUM

A fúria vegetal do tronco morto

Pesa no ombro em que depus a lágrima

E com seu peso confirma a dor do Horto.

Depus a lágrima; e o mundo, sua lástima:

Essa alga profusa e exorbitante

Galgando o peito em negra numismática

Com a qual Satã gozou seu montante

De almas que se riem de meu Rei;

Ele, porém, as roubará do guante

Do senhor das potestades que temeis.

E entre ladrões na cruz suspenso

Levanta-me dores que não sei

Como não levaram as asas de meu senso

Para longe, deixando comigo (eu tão escassa)

Sobre o colo doloroso corpo. O lenço

De Verônica tem um rosto que não passa

A luz que vi em ti, Jesus, meu filho

Quando me disseram: Ave, cheia de Graça.

E nesta gruta escura em que o fio

Da vida balança e se perde entre nuvens

Eu vejo os dias como se visse um rio

Que só levasse a maldade dos homens.

Rodrigo C Pereira
Enviado por Rodrigo C Pereira em 25/08/2019
Reeditado em 26/08/2019
Código do texto: T6729091
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