NÃO SEJA CÍNICO, NÃO SEJA COVARDE!

* Nadir Silveira Dias

Quando quiser fazer uma coisa qualquer, não faça outra coisa. Faça o que quer fazer. Em memória de mim. Não seja cínico, não seja covarde!

E bem a propósito ocorre-me pensar sobre o ponto principal que sempre me fez ver descaracterizada a greve. E que é justamente esse mesmo ato de fazer uma coisa dizendo ser outra, dizendo ser greve, quando não é. Pois o que sempre se vê dito como greve, de regra, é sempre outra coisa. Muito feia, muito sinistra e catastrófica, em todos os sentidos.

Greve é ato de não fazer. Ato de estar parado, sem nada fazer. E é muito simples de fazer. Greve é apenas negação: Não vou fazer. Não dói. Não machuca. Não fere ninguém. A dona de casa não compra carne, arroz, feijão, batata, milho verde, alface ou calcinha. O caminhoneiro não põe o caminhão a rodar, o industriário não vai à fábrica, o comerciário não vai ao comércio, o bancário não vai ao banco, o vigilante não vai vigilar. O único ferido é o interesse subjacente do patrão. Deixe ele examinar a falta que lhe faz a categoria. Sem trabalho nada anda. Tudo fica parado. Tudo dá prejuízo. E prejuízo não serve para ninguém.

Além disso, as pessoas precisam ter certeza no ânimo de que não vão ser atrapalhadas para chegar ao seu trabalho. Sem trabalho nada anda, por exemplo, dentre tantos outros, logísticos de saúde, de estudo, de viagem, de qualquer coisa que precise ser feita e que a greve não pode atrapalhar ou impedir.

O objetivo de quem faz greve é ou deveria ser demonstrar para aquele de quem é exigida melhor ou maior contraprestação de quanto, ele, que faz a greve é importante para o que nega a exigência. E, exatamente aí, começam todas as inversões que fazem a não greve do que dizem e afirmam ser greve.

Se greve é ato de não fazer, como entender a incitação, o impedimento, a não circulação de quem pretenda circular. Como entender que quem exija respeito de quem lhe deve uma contraprestação não respeite a posição de qualquer outro, a do próprio patrão, a dos próprios companheiros de trabalho, dos vizinhos e todos os demais que entendem que a greve não pode afetar quem quer que seja, senão aquele de quem é exigida melhor ou maior contraprestação pelo trabalho prestado.

E o respeito é base para qualquer recíproco entendimento. Sem ele apenas haverá, como sempre tem havido, bagunça, baderna, quebra-quebra, mortes e descalabros de toda ordem. E mesmo a reunião de pessoas que exigem alguma coisa é admitida na greve, como ocorreu em Paris, em 1210, na Praça Greve. O que não pode ocorrer é que um movimento, um estado de estar parado, de estar sem atividade daquele trabalho cuja melhora de contraprestação se pretenda, se caracterize por outro conjunto de movimentos.

E nesse composto, de regra, é aplicada a violência, o submetimento, o medo, o terror, para atingir o objetivo de paralisar e prejudicar toda a cadeia de atividades daquela de quem se pretende a melhor ou maior contraprestação. E todos perdem. Ninguém ganha nada.

Vale lembrar, a propósito de respeito, de ordem, de fundamentos, de primazia da importância, que é a vida, não de outra coisa qualquer, que o evento bíblico da expulsão dos vendilhões do Templo, dentre outros, levou à morte de Jesus Cristo, que não foi morto pelos Assírios, que não foi morto pelos Aramaicos, que não foi morto pelos Fenícios, nem tampouco foi morto pelos Árabes, todos integrantes da grande família etnográfica e linguística semítica, mas por aqueles que estavam no poder na época e local dos fatos.

Em memória de mim, quando quiser fazer uma coisa qualquer, não faça outra coisa. Faça o que quer fazer. Não seja cínico, não seja covarde!

* Jurista, Escritor e Jornalista

Nadir Silveira Dias
Enviado por Nadir Silveira Dias em 19/06/2019
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