Os contos de fadas remontam histórias que têm sua origem na cultura céltico-bretã, na qual a fada, um ser fantástico, tem importância fundamental. E, a primeira coletânea de contos infantis surgiu no século XVII, na França, organizada pelo poeta e advogado Charles Perrault.

As histórias recolhidas tinham origem na tradição oral e até então não eram documentadas. Oito estórias a saber: A Bela Adormecida no Bosque; Chapeuzinho Vermelho; O Barba Azul; O Gato de Botas; As Fadas; Cinderela ou A Gata Borralheira; Henrique do Topete e o Pequeno Polegar.

A literatura infantil como gênero literário nasceu com Charles Perrault, mas só foi amplamente difundida posteriormente no século XVIII, a partir de pesquisas linguísticas realizadas na Alemanha pelos Irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm).

Nas pesquisas dos Grimm descobriram variado acervo de estórias maravilhosas disseminadas ao longo do tempo.

Formaram, assim, a coletânea que reuniu contos como A Bela Adormecida; Branca de Neve e os Sete Anões; Chapeuzinho Vermelho; A Gata Borralheira; O Ganso de Ouro; Os Sete Corvos; Os Músicos de Bremen; A Guardadora de Gansos; Joãozinho e Maria; O Pequeno Polegar; As Três Fiandeiras; O Príncipe Sapo e dezenas de outros contos.

Contudo, ao documentar as estórias, os Irmãos Grimm, influenciados pelo ideário cristão que já dominava o pensamento da época, fizeram diversas alterações no enredo de alguns contos, já que esses muitas vezes apresentavam aspectos polêmicos com episódios de violência ou maldade, envolvendo, inclusive, crianças.

O melhor exemplo é a narrativa de Chapeuzinho Vermelho que na versão de Perrault ainda não havia a preocupação em adaptar os contos recolhidos da tradição oral e, nem existia a figura do caçador (que surge para salvar a menina e a sua avó de possível final

trágico). Chapeuzinho vermelho ficava nua, deitava-se com o lobo e, depois morria devorada por ele. Noutra versão, ainda mais obscura, a menina era enganada pelo lobo que a induzia a comer a própria avó cozida, além de beber seu sangue servido numa taça de vinho.

Enfim, a literatura infantil clássica seria complementada pelas estórias do dinamarquês Hans Christian Andersen que seguiu a estrutura montada pelos Irmãos Grimm, quando as estórias deveriam ser norteadas pelos mesmos ideais, defendendo valores morais e também a fé cristã.

Um aspecto importante difere as estórias de Andersen pois, defendendo a fé cristã criou elementos que falavam às crianças sobre a necessidade de compreender a vida como caminho tortuoso a ser percorrido com retidão, honestidade e resiliência para que enfim, na morte o céu fosse alcançado.

Os contos de Andersen são considerados os mais tristes, e alguns deles não apresentam o final feliz.  A evolução dos contos de fadas experimentou profundas alterações, a fim de diminuir o impacto negativo das estórias originais.

Devemos observar que os tempos eram outros e, ainda, não havia uma preocupação com os aspectos lúdicos que hoje são tão importantes para a formação dos pequenos.

E, é sabido que os temas considerados violentos podem influenciar negativamente as crianças e, por isso, não aceitamos a linguagem original empregada nas primeiras versões dos contos. Uma leitura atenta pode identificar os inúmeros resquícios do universo assustador presentes nas estórias originais.

O conto de fadas é uma história onde tipicamente são apresentados personagens fantásticos do folclore, tais como dragões, elfos, fadas, gigantes, gnomos, goblins, grifos, nuchas e animais falantes. E, também trolls, unicórnios e bruxas.

Distingue-se de outras narrativas folclóricas como as lendas, pois envolvem a crença na veracidade dos eventos narrados e descritos e, as estórias nitidamente morais, incluindo as fábulas. A expressão "conto de fada" é usada particularmente, para as histórias com origens na tradição europeia e, pelo menos séculos mais recentes, relaciona-se majoritariamente à literatura infantil.

Os contos de fadas podem se transformar em lendas, nos casos em que a narrativa é tida como baseadas em verdades históricas tanto pelo narrador como pelos ouvintes.

Contudo, é diferente das lendas e dos contos épicos, pois usa apenas referências superficiais à religião e lugares, pessoas e eventos reais. Podem ocorre num tempo indeterminado o que é marcado pela expressão "era uma vez...". O nome "conto de fada" foi concebido pela primeira vez por Marie-Catherine d'Aulnoy no final do século XVII.

De acordo com pesquisas das Universidades de Durham e Lisboa, tais história podem ter se originado há milhares de anos, algumas até na idade do bronze, há mais de sei mil anos atrás. A propósito, a palavra fada tem origem no latim fatum, que significa destino, fatalidade, fado e, etc. E o vocábulo reflete em outros idiomas das principais nações europeias, fée em francês, fairy em inglês, fata em italiano, fee em alemão, hada em espanhol.

Na Alemanha, até o século XVIII era usada a expressão Feenmärchen, sendo substituída por Märchen (narrativa popular, história fantasiosa) depois do trabalho dos Irmãos Grimm. No Brasil e em Portugal, os contos de fada são mais conhecidos, a partir do fim do século XIX, sob o nome de contos da carochinha.

No último século, os contos de fadas passaram ser analisados detidamente e observado seu significado oculto que tem diversos estudiosos nas áreas de psicologia e psicanálise. De acordo com Sheldon Cashdan, os contos seriam psicodramas das infâncias, representando lutas reais dentro do processo de crescimento.

Diferentemente, do que se poderia pensar, os contos de fada não foram escritos para crianças, e muito menos para transmitir ensinamentos morais, ao contrário das fábulas de Esopo. Originalmente, os textos traziam pesadas doses de adultério, incesto, canibalismo e até mortes hediondas.

Segundo Marina Wamer, especialista em histórias infantis da Universidade de Essex, na Inglaterra diz que a fome e a mortalidade infantil serviam de inspiração para os contos de fadas, surgidos em sua maioria na Europa da Idade Média. Foi, de fato, concebido para servir de entretenimento para adultos e, eram contados em reuniões sociais, nas salas de fiar, nos campos e tantos outros ambientes onde os adultos se reuniam habitualmente.

O Renascimento assistiu o surgimento também de outras obras influenciadas pela atmosfera mágica céltico-bretã, o próprio Shakespeare apresenta um rei dos duendes Oberon), uma rainha das fadas (Titânia) e um duende (Puck) em sua peça “Sonho de uma noite de verão”. E, mesmo numa obra mais séria, como Romeu e Julieta, o bardo introduz uma fada, a Rainha Mab.

Seguindo a mesma tradição em Camões apresenta em “Os Lusíadas”, o episódio da Ilha dos Amores, uma reminiscência da ilha de Avalon e das Ilhas Afortunadas habitadas pelas fadas, onde os navegantes portugueses são acolhidos por ninfas após seus trabalhos esforçados. No fim do século XVII, este conteúdo havia sido esvaziado de seu sentido mítico original e, cada vez mais, passou ser visto somente como relíquia exótica da infância da humanidade.

 

Referência

CASHDAN, Sheldon. Os 7 pecados capitais nos contos de fadas: como os contos de fadas influenciam nossas vidas. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: História, teoria, análise. 4. ed. São Paulo: Queíron, 1987.

GELDER, Dora Van. O mundo real das fadas. São Paulo: Pensamento, 1986.

GRAVES, Robert. A Deusa Branca: uma gramática histórica do mito poético. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

MEREGE, Ana Lúcia. Os contos de fadas: origens história e permanência no mundo moderno. São Paulo, SP: Claridade. 2010.

SQUIRE, Charles. Mitos e Lendas Celtas: Rei Artur, deuses britânicos, deuses gaélicos e toda a tradição dos druidas. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2003.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 13/01/2022
Código do texto: T7428885
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.