ESTES BICHOS DE AGORA...

Olhem os bichos de agora

De verem tantas novelas

Exigem: “- Vamos embora,

Fazer como se faz nelas.”

Se os homens têm alegrias

E fazem certas loucuras

Que os bichos gozem uns dias

Pois as noites são tão duras…

Sussurrava o sapo à rã:

-Beija-me querida prima!

Foram logo pró divã

Aos beijos de baixo acima.

Salta o coelho à coelha

Enquanto a cenoura rói

E sussurra-lhe à orelha:

-Está mesmo bom…Não foi?

Mesmo o pobre caracol

Anda à procura de par

Aponta os cornos ao sol:

-Porra que me estás a assar!

Se o carneiro corta a lã

Fica a ovelha chorosa

Lá diz ele: -Tenho frio…

Grita ela: - Ovelha ranhosa!

Vejo o burro aburricado

E a burra desesperada

Ele é só publicidade

E ela lá fica sem nada…

E vejam a vaca louca

De paixão (só pode ser)

Cada vez é mais galdéria

Põe-lhe a cabeça a crescer!

Até o pequeno rato

De fértil reprodução

Procura sabiamente

Ter a rata sempre à mão…

Nesta coisa de adultério

Mesmo a elefanta é tentada

E o paquiderme, coitado

De trombas, só à trombada…

E o belo e nobre faisão,

Não é tipo de dar baldas,

Quer sete faisoas à mão,

Ele é como eu...das Caldas!

Adolfo Dias,1989