TROVAS DA SOLIDÃO

“No Palácio Baldaya, Dia da Poesia”

Há solidão nesta Sala

Ao abrigo da Natureza

Entra o sol pela janela

E Poesia? É uma tristeza…

Hoje é Dia da Poesia,

Todos eles deveriam ser,

Haveria grande harmonia

E a vida seria um prazer.

- Para mim é Dia santo

Porque sou sério e poeta

Quero fartar de encanto

Esta minh´ alma inquieta.

Vivemos num mundo agreste

Que não tem eira nem beira

Não há nele nada que preste

E é tudo negócio de feira.

Bem o disse mestre Gil,

Quando a vida descreveu,

Por burrice, em cada mil

Um humano ensandeceu.

Não há honra nem respeito,

Falta a fé e a devoção,

Da moral não se vê jeito

E ninguém tem coração.

Dar exemplo e testemunho,

Cada gesto é só fumaça,

Corrupção em cada punho

Faz da vida uma desgraça.

Ninguém vê autoridade,

Nem governo competente,

A justiça é só vaidade

Com farelo na sua mente.

Educação, nem falar,

Só se vê devastação,

Com a poesia, se calhar,

Ninguém cura a solidão.

………………….

Chegaram, porém, Dona Osório

E Dona Beca - um primor! -

Faltam poetas, é notório,

Mas antes assim que pior.

Falou-se de Sena e Sophia,

E também d´ Eugénio e Pessoa,

Discutiu-se a poesia

Nesta sossegada Lisboa.

Até Bocage se cantou

A música andou no ar

A tertúlia tarde acabou

Com vontade de voltar!

Frassino Machado

In TROVAS DO QUOTIDIANO

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 22/03/2019
Reeditado em 22/03/2019
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