O NASCIMENTO DO POEMA

Vez em quando entro em “estado de Poesia”, que é quando os versos surgem: coelhos saltitantes de dentro de uma cartola, enquanto o mágico faz as suas estripulias no palco... Este "estado de Poesia" é uma situação incomum em que o ser (como um todo) energizado expele as palavras quase sem controle racional. É uma situação inusitada e inquietante para mim – criador compulsivo, porque permanentemente condenado ao pensar – momento fático a que o meu querido e saudoso mestre de humanidades Zeferino Paulo Freitas Fagundes chamava de "transe", ao me iniciar nos mistérios da poesia, lá pela década de 80 do séc. XX. Naquele instante prazeroso, os versos nascem experimentais, dançarinos e ansiosos, rítmicos e ágeis. Os mesmos coelhos da cartola do mago de ocasião embasbacado com a sua dádiva ao público eventual. O dado mais interessante é que se altera a temperatura de todo o corpo e este começa a transpirar, quase que imediatamente. No verão – por vezes, quando manuscrevia – o lápis ou caneta caía dos dedos e o papel sobre o qual se apoiava minha mão direita, ficava empapado de suor, tal era a energia trespassada pelo ato de criação. Então, tinha que trocar o papel, porque a anotação ficava ilegível... Este quase-poema "INSINUAÇÃO", registrado em vídeo e publicado na "OFICINA DO VERSO", em https://www.facebook.com/pages/Oficina-do-Verso/899010050142951 , é um exemplar nascido sob a regência deste processo de transe, e acompanhado por um vinho cabernet sauvignon – o sangue da terra meu preferido – a saudar a vida e a beleza posta no mundo, para que a enxerguemos e sigamos em frente com alegria. Pelo vídeo, na minha voz, registra-se o rabisco, a garatuja da INSPIRAÇÃO. Este primeiro momento serviu como aporte inicial para o poema em seu formato definitivo – por enquanto, porque pra mim o poema nunca está pronto:

ILUMINAÇÃO

Joaquim Moncks

Assim como na canícula

o canário

é um sol de penas

a sombra da Poesia

nos humanos cenários

é um céu

alumbrado de dúvidas.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/5220875