QUEM É MESMO O BURRO?

Se você acha natural fazer da máquina administrativa uma geradora de empregos que não necessita de aprovação em concurso público, não chame nenhum político de corrupto. Se você costuma escolher seu vereador ou deputado através do voto de barganha e se vive a barganhar cargos comissionados para si ou para algum parente, não ouse reclamar de políticos oportunistas. Se o seu voto é decidido pelo cabo eleitoral de sua comunidade e você tem que ir às reuniões e aos comícios para inchar a massa, como pode se achar no direito de opinar sobre ética na política? Como podes chamar um político de ladrão se você é capaz de servir um almoço ou jantar a um candidato, para apresentar o número de votos da família, fazendo-o lembrar que os votos são, na verdade, contratos estabelecidos por camaradagem? Faça-me o favor. Não chame um político de desonesto se você tem a estabilidade advinda do concurso, mas se presta ao papel de capacho comprometendo-se de maneira forte com seu administrador, como é o caso da negociata espúria para exercer cargo de dirigente, passar de peão a gerente ou de auxiliar de serviços gerais a chefe da repartição.

Atualmente, os discursos giram em torno de quem supostamente é “pobre” e “manipulável”. Até podemos entender a relação de dependência, herdada de uma colônia de exploração e de voto obrigatório. Durante décadas, a “indústria da seca” encheu os cofres das velhas oligarquias. O que é difícil, intragável, desprezível, é o processo de imbecilização que vem ocorrendo com gente supostamente “formada”, mas que evoca abertamente a saudade da ditadura militar ou a simpatia pelo fascismo.