A última
Leio todas as noites, para tentar esquecer
o que não está só na mente,
mas não importa qual livro posso ler,
pois antes que acabe, nunca é diferente
e sempre volto a pensar em você,
não dá para esquecer que estou carente
que quero te amar e te ter...
Antes que a noite acabe já chorei
bem mais de mil lágrimas de amargura,
já viajei ao passado, onde te beijei
com todo meu desejo e sem postura
de uma garota que respeita a lei,
e toda essa viagem diária é uma tortura
que se há como parar, não sei!
Grito apertando meu rosto no pobre travesseiro
e me beslico por sucumbir à fraqueza,
quero controlar meu amor, mas é grosseiro
com minha falta de autoridade e tristeza,
quero fugir da verdade e do desespero
que me encerra na cama, sem clareza
e sem noção do que é inteiro.
Reviro-me inconformada com a estranha sensação
de que estou, em público, me afogando
e que sou invisível somente à paixão,
o lençol já não está me agasalhando,
a cama já não suporta minha aflição
aí começo o sonho que estou contando
e nunca sei quando acaba a ilusão...
Inundo os lençóis com meu pranto desesperado
com minha angústia reprimida durante o dia;
com o toque inexperiente de alguém intocado;
com o esforço de esquecer sua magia;
com a fome de um corpo nunca amado;
com o medo em silêncio da histeria;
com a esperança ingênua do ser desejado
Mas a cama suavemente ameniza meu sofrimento,
ela, sabiamente, faz com que eu adormeça
e deixa-me descansar por um momento,
sem saber que nele, talvez, tudo cresça
sem saber que não cessou o tormento,
então suporta que todo meu pesadelo desça
e maltrate quem não supera o pensamento...
Amanhecendo, eu acordo, e oro sem intenção,
é automático, meu desejo que esteja bem,
de que não lhe haja nenhuma aflição
e que realize tudo que deseja também,
banho-me pensando no pulsar do coração
acelerado diante do sorriso que você tem
e que admiro somente na minha imaginação.