A PRIMEIRA BATALHA

Dia 10 de fevereiro de 1959 ...8:00 da manhã.

Um bebê chora no berço.

Os gritos ecoam pela casa...mas ninguém tomava conhecimento.

Todos sabiam que mesmo com a idade que tinha,ela já saía do berço sem nenhuma ajuda.

Também haviam os afazeres da casa que eram muitos.

Quando cansaram de ouvir os gritos,enviaram uma irmã para ver o que se passava.

Fui encontrada assim...

Estática e ardendo em febre.Tinha apenas forças para chorar.

-É birra,diziam.

Colocavam-me de pé..e eu caia tal qual maçã podre.

Não tinha mais sustentabilidade no meu corpo.

Fui recolocada na cama.Morávamos longe de qualquer atendimento médico,e também,diziam,que não deveria ser nada,que logo passaria.

E lá eu fiquei...largada numa cama,pedindo por um socorro que não vinha.

Tinha certeza de que algo de muito terrível se passava.

Restava-me somente esperar.

Esperar....

Angustiante espera...delirante espera.

No auge da temperatura que consumia meu corpo,eu delirava esperava.

Nesse delírio eu viajava para mundos distantes.

Eu tinha a paz,

vivia em paz.

Não tinha eletricidade,portanto também não havia ventiladores.

Usavam abanadores por ser verão.E eu apanhei muito com esses abanadores.

Ninguém gostava da tarefa,mas foi determinado um tempo para cada um dos irmãos ficar me abanando e isso os irritava.

Levei surras oméricas...doente...indefesa...submissa.

Não entendia o motivo de além de não ter socorro,sofria tanta

agressão.

Meu pai era militar e portanto vivia destacado em outra cidade.

Meu pai de nada sabia.

Meu pai...meu socorro.

Mais um dia amanheceu e meu delírio persistia.

Abri os olhos e vi aqueles dois lindos olhos verdes,apreensivos,desesperados.

Olhavam-me com lagrimas...ele gritava.

Me sacudia...parecia querer me dar vida.

Enquanto isso eu pensava na minha inocência :

-Deus te enviou,pai querido,me salva!!!!!!!!

Hoje,50 anos passados,eu me questiono se não teria sido melhor tudo ter parado por ali.

Lembro dele me enrolando num cobertor e saindo correndo comigo de casa.

Ele...somente ele para me salvar.E conseguiu!!!!!

Na época ainda não havia a vacina para a poliomileite.E era fatal.

Costumava ser chamada de paralisia infantil.

Eu estava com "paralisia infantil".

Parecia que havia uma epidemia na cidade.

Diagnosticado o problema,inicia-se o tratamento.

Pinicilina Cristalina.

Na casa mais próxima da minha,tinha uma criança apresentando os mesmos sintomas que eu.

Meu pai comunicou isso ao médico,e o mesmo pediu ao meu pai que mandasse os pais da dita criança a levarem imediatamente.

Eles não acreditaram em meu pai e a criança faleceu 3 horas após a minha chegada em casa.

Foi um susto para todos,pois passaram a crer que a doença de fato era fatal.

Mas eu sobrevivi.

Graças a um lindo italiano de olhos verdes com uma grande mecha de cabelos brancos caindo na testa.

Graças a ti meu paizinho lindo,eu hoje estou aqui,e posso de público dizer que tu fostes a minha salvação.

Aliás pai,onde quer que estejas...TU ATÉ ONDE PUDESTES,FOSTES SEMPRE A MINHA SALVAÇÃO.

Mulher de Luz
Enviado por Mulher de Luz em 30/05/2009
Código do texto: T1623525
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