ENCARANDO A VIDA

Enquanto vivemos com nosso paia,havia um certo conforto.

Tínhamos casa para morar (mesmo alugada),tínhamos comida na mesa,

mas com a separação,tudo se complicou.

Meus irmãos mais velhos,ou casaram ou foram fazer as suas vidas.

Sobramos eu,meus dois irmãos e minha mãe.

Havia uma questão burocrática que impedia minha mãe de pedir o desquite:algo na ficha funcional de meu pai,ele estava prestes a se aposentar e um pedido de desquite o levaria à exlusão da PM.

Foi então sugerido pelo comandante dele que minha mãe aguardasse um pouco.

Da noite para o dia não sabíamos o que fazer.

Minha mãe não era de tomar iniciativas;de resolver problemas.

Uma tarde descobri num bairro longe do nosso;uma casinha habitável,que estava abandonada pela dona.Ela precisava de alguém para cuidar da casa.Era pequena..2 quartinhos,uma salinha euma cozinha com fogão à lenha.Era um início.

Fomos lá morar de graça.Também não havia nem eletricidade nem água encanada,mas já era bom demais...estaríamos cobertos.

Faltava dinheiro...faltava comida..faltava tudo.

Fiquei sabendo que um colégio faria uma seleção,abriria vaga para 50 crianças no primeiro ano ginasial.

Fui me inscrever.Eram filas enormes,mas eu estava lá e lutaria por uma chance.

Foram 2 dias consecutivos de testes...conhecimentos gerais..psicotécnicos...entrevistas...coisas que não acabavam mais.

Fiz todos .Aguardei o resultado.

No dia do resultado a frente da Reitoria da UFSC,parecia uma mar de gente.Todos agoniados,afinal estaríamos num colégio pertencente á UFSC,com um grau de ensino elevado.

Começaram a chamar os nomes classificados por um alto falante.

A apreensão aumentava.Sentei no chão e inexperadamente..ouço meu nome..eu estava estre as 50 escolhidas.

Chorei..sem nenhuma vergonha!!Chorei e senti o pêso da solidão.

Cada um dos chamados estava com pai e mãe ao lado;apenas eu estava só.

Sequei os olhos e me dirigi para a frente,onde deveriam ficar os classificados.

Mais uma vitória sem glórias..eu estava só.

Outra vez eu descobri que se algo queremos,temos que lutar por nossos ideais.Quando não temos ninguém por nós,somos de fato sós.

Voltar para casa e esperar ser recebida era utopia.Foi como se nada tivesse acontecido.Apenas meu interior se regozijava.

Veio então o problema dos uniformes...sem condições de comprar.

Fui na orientadora e expliquei minha situação;ela prontamente arrumou uniformes com uma aluna de uma série superior à minha.

Aluna essa que veio a ser uma das minhas grandes amigas e de quem ganhei bastante dinheiro,fazendo para ela os trabalhos de aula que ela não gostava de fazer.Por ser de uma família tradicional na cidade,nunca lhe faltou dinheiro.Na casa dela,ganhei a simpátia dos pais dela,que me permitiram ter aulas de piano juntamente com ela,e eles pagando.Mas não era o suficiente.Tinha uma família para sustentar.

Tínhamos aulas o dia inteiro.Eu chegava na Universidade cedo e sentava no barzinho,aguardando a hora de entrar.

O dono do bar me observava e um dia veio falar comigo.

-Por que eu não fazia lanche igual as outras crianças ?

Expliquei para ele que não tinha como pagar.Contei a situação de minha família.Ele mandou me servir um lanche(um delício café com leite e um pão com manteiga,como jamais então tinha comido)e me disse que a noite iria falar com minha mãe.

Conciliaríamos meu horário de aula,com um horário especial que ele me faria para que pudesse trabalhar ali.Assim teria todos os lanches de graça.Estudaria,trabalharia e estaria bem alimentada.

Esse foi meu Pai fora de casa.Foi meu apoio paternal.

Nem tudo estava perdido...abriu-se uma luz no final do túnel.

EU TINHA UMA EXCELENTE ESCOLA E UM TRABALHO.

Mulher de Luz
Enviado por Mulher de Luz em 03/06/2009
Código do texto: T1629322
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