MAIS UMA VEZ...ELA...

No meu tempo de casada eu tinha sido apresentada para uma grande pessoa,que viria ser a secretária do futuro Diretor,da emissora que se instalaria na cidade.

Fui procurar por ela,e ela mandou procurá-la no dia seguinte no Morro da cruz.

Cedo eu estava lá.

Era inverno,usava botas,casaco longo.

Aos 20 anos eu me vestia e me portava tal qual uma primeira dama.

Fui chamada imediatamente para entrevista.

Um setor de importância fundamental estava em criação e precisavam de pessoas para treinamento.

Teria que ser muito boa em cálculos e ter disponibilidade de horários.

Para uma leiga,tal qual eu era,jamais ouvira falar em SRT (Serviço de Reserva de Tempo),ouvir aquela expressão,parecia algo irreal.

Não tinha ainda conhecimento de que é o patrocínio e o tempo vendido entre os intervalos (comerciais), que mantinham uma TV no ar e pagavam os salários dos funcionários.

Fiquei impressionada com o valor de cada segundo vendido em programas e em horários nobres.

Em pouco tempo estava tão envolvida no trabalho,que quando a TV foi para o ar,eu já tinha meu lugar colocado.

Algum tempo depois,fui convidada para ir trabalhar numa afiliada no Paraná.Aceitei na mesma hora.Era o meu crescimento.

Teria que mudar de estado ,e é claro levaria junto minha filha.

Quando minha mãe soube que eu mudaria de estado e levaria a minha filha comigo,em surdina,entrou com uma petição de guarda da minha filha.Eu de nada sabia.

Estava trabalhando,quando chegou um oficial de justiça,com uma intimação,cuja audiência seria dali a uma hora.Mal tive tempo de descer o morro.

Quando adentrei à sala de audiência...nã acreditava no que via...

Minha mãe juntamente com meu ex-marido.Agora amigos.

Ela pedia a guarda da menina para ela,alegando que eu mudando para outro,sumiria com a menina,que nunca mais voltaria.

Minha mãe parecia desconhecer o significado da palavra família...raizes.

Eu não tivera tempo para contratar um advogado...estava só e sem defesa.

Eram tantos os argumentos contra,usados por ela,que eu me recuso a citar,pois não parecia uma mãe,e sim a minha maior inimiga falando contra mim.Sempre fora.

Ouvi todos e no finial me dirigi ao Juiz:

-Eu de fato não poderei sair do estado com minha filha ?

-Ele respondeu secamente:Diante dos fatos aqui apresentados,não.

-Eu posso então escolher com quem deve ficar minha filha?

-Sim...é um direito seu.

Olhei com os olhos cheios de lágrimas para a minha mãe e disse:

-Perdoe-me por ter nascido,perdoe-me por ter sobrevivido a todas as atrocidades que sofri nas suas mãos.Eu a perdoo por nunca ter me amado,mas por mais que a senhora não me ame,eu saí de suas entranhas e vou continuar considerando-a minha mãe.Um dia eu voltarei,e virei vê-la.

Voltei-me para meu ex marido e disse:

-Fostes um bom marido,apesar de tudo.É nossa filha e se não me é dado o direito de ficar com ela,que ela passe a ser responsabilidade tua.Já estais casado.Que tua esposa cuide bem dela.Mas acata um pedido meu.Permita que ela participe da festa de Natal que a TV está programando para os filhos dos funcionários.Somente isso.Depois ela será entregue para ti.

Ele concordou.Levantei-me majestosamente e não sei dizer como consegui sair dali.

Na rua chorei...sentei numa praça e passei horas chorando.

Mais uma vez ela tinha me tirado o chão.

Novamente eu estava só...sem meu único bem.

Na TV a comoção era grande.Todos solidários com o meu sofrimento.

No dia da festa..o cinegrafista ocupou-se em filmar minha filha o tempo todo.Seria uma lembrança que eu levaria comigo.

No fim da festa..um carro com dois oficiais de justiça me aguardavam.

Assim minha filha foi levada de mim.

E eu fiquei ali...no alto daquele morro...tendo a cidade com seu manto de luz sob meus pés.

Desorientei...Meu chão não havia mais.

Minha raiz fora arrancada abruptamente.

Não sabia para onde ir...a casa estaria vazia.

O riso se perdera.

Me ajoelhei sobre as britas do estacionamento e gritei.

Deus,me ajuda!!!Não me permita fazer nenhuma loucura.

Naquela mesma noite...fui embora para o Paraná.

Sem conhecer ninguém...apenas teria que me apresentar na afiliada antes do final do ano.

Levei comigo a dor da solidão,do ser só.

SERIA UM NOVO COMEÇO DE VIDA.

NOVAMENTE SÓ...DA MESMA FORMA QUE VIM AO MUNDO.

Mulher de Luz
Enviado por Mulher de Luz em 04/06/2009
Código do texto: T1632451
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.