O SURGIMENTO DE MINHA FILHA

Ter mais um filho tornou-se uma fixação.

Viver com um alcolista é algo táo insuportável,que somente quem vive pode falar.

É não ter o direito de viver.É ser só,mesmo dentro de um casamento.

Os constrangimentos são constantes.

E eu esperava pela filha que surgiria.

Mas também não buscava...apenas esperava..pois tinha certeza de que viria.

Uma noite,no meu trabalho..apareceu um casal me procurando.

Souberam por outras pessoas da minha intenção em adotar e vieram me pedir ajuda,para uma criança nascer.

Fiquei surpresa com a história que me contaram.

Tinham uma irmã,solteira,de uma família de classe média,que vivia tendo filhos e doando.Já doara 5 filhos.Aquele que estava por vir seria o sêxto.Estava então no terceiro mês de gravidez.

Vivia tentando abortar,e eles queriam uma maneira,uma certeza de que já haveriam pais para a criança,quem sabe assim,ela desistisse do aborto.

Prontamente assumi a adoção.

Queria aquela criança para mim.

No dia seguinte cedo fui falar com a mãe,para convencê-la a não abortar.Acertamos todos os detalhes.Ela não mais abortaria.

Eu passaria a cuidar dela até a criança nascer.

E assim foi feito.Antes do nascimento,ela me assinou um têrmo de anuência,onde abria mão dos direitos sobre a criança.

Com esse documento registrado em cartório,passamos a aguardar o nascimento para que o advogado entrasse com a adoção.

Dessa maneira num sábado eu tive minha filha nos braços.

Foram 11 mêses de uma luta constante.Uma correria contra o tempo.

Quando a vi pela primeira vêz..chorei.

Chorei por ela.Chorei por todas as crianças,que são empurradas para esse mundo,que são regeitadas antes mesmo de nascer.

Chorei por mim.Quanto mais eu corria de meu passado,mas ele me ressurgia.Era um fantasma que se apresentava de diversas maneiras.

A felicidade está no doar...doar amor...seja de que maneira for.

Mas doar amor.

E isso eu tinha de sobra...mesmo nunca tendo recebido.

E eu a amaria.Ela seria muito amada.

Muitas pessoas recusam-se a adotar pela burocracia que se apresenta.

Gostaria que eles soubessem que a "burocracia",é a nossa garantia de que jamais nossos filhos do coração serão levados de nós.

Que após o CUMPRA-SE,somente Deus,poderá levar nossos filhos de nós.Essas foram as últimas palavras do Meretíssimo Juiz de Menores no dia da audência final de adoção.

Fazer parte de uma audiência de adoção,é algo tão inexplicável,tão apavorante no início...mas relaxante no final.

Quando saimos daquele tribunal...eu finalmente pude dormir em paz.

Até então eu dormia com aquela envolta em meus braços,o medo de que alguém a roubasse durante a noite,me fazia ter pêsadelos constantes.Sonhava que ela era levada de mim.

Agora olhava para ela e finalmente eu era a mãe biológica dela.

Agora sob todos os aspectos legais ela houvera nascido de mim.

Vale aqui ressaltar que minha filha é negra,e venho de uma família cheia de preconceitos e racismo.

Se eu já era vista como sendo a ovelha negra da família,a partir dai,virei mais negra ainda.

Mas a opinião deles pouco me importava.

O que de fato tinha importância,é que era minha filha muito amada.

Crescendo com todo o amor que alguém poderia ter.

Acontece em mim um sentimento interessante com relação à ela;

jamais a vi como sendo filha adotiva e muito menos como sendo negra.

Apenas sei que é minha filha.

Vivemos muitos altos baixos,passamos por muitas situações vexatórias.

Tive que brigar muito por minha filha.Quando tentavam humilhá-la,eu virava uma verdadeira leoa em defesa dela.

E faço isso até hj.

ELA É A MINHA BARBIE NEGRA.