VISITANDO UMA CASA LAR

Hoje...eu tive um compromisso importante.

Visitar crianças.

Após uma interminável entrevista com 2 psicólogas ,que aconteceu no decorrer da semana passada,recebi autorização para visitar as casas.Finalmente.

É um local para onde são recolhidas as crianças que são,ou abandonadas pelos pais,ou retiradas judicialmente dos mesmos,pelos mais diferentes motivos.

Uns por agressão,outros por abusos sexuais.

Sai de casa com o coração aos pulos.Sentia até medo de dirigir.

Fui com uma única finalidade...visitar a menina que pede para ser minha filha.Ela tem 5 anos,o pai foi assassinado e a mãe está totalmente entregue ao vício e a prostituição.

Ela conhecia meu outro carro;estava no jardim quando eu cheguei.

A frente da casa é protegida por fortes barras de ferro.

Quando ela me viu descer do carro,parece que adquiriu forças de um gigante...agarrou-se nos ferros e me chamava.

Abriram o portão e eu entrei.

Depois de semanas,pude finalmente abraçar aquele frágil corpinho,tão sedento de amor de mãe.

Simplesmente peguei-a no colo e ficamos rodando,e ela rindo.

Eu sentia saudades dela,mas ela sentia bem mais de mim.

Eu não tinha idéia do que fosse a casa.

É uma casa comum...mantida pelo governo...com as tias (monitoras),aparentemente é uma casa comum;pena que lá dentro more a solidão.

A casa é confortável,dispondo de todo conforto possível...mas falta o principal para aquelas crianças... o interesse das famílias.

São levadas e lá esquecidas.

Eu imaginava que encontraria crianças somente da idade dela.

Como me enganei.

Tinha desde um bebê de 3 dias até uma moça de 17 anos,que fará 18 anos no próximo mes,e como não tem família,disse-me que quando tiver que sair irá morar com o namorado.

Nessas horas,precisamos não ter coração,eu fui unicamente para visitar minha menina,e, acabei visitando todas,porquê nenhum parenbte de nenhuma outra apareceu.E isso que as visitas acontecem exclusivamente nos sábados e nos domingos.

Não encontro palavras para descrever o que se passou no meu íntimo.

Olhar aquelas crianças e saber que se não acontecer uma adoção,permanecerão ali até completarem 18 anos.

Damos tanto para nossos filhos ...e lá aquelas crianças.

Vale frisar que quase todas são irmãs...apenas minha menina está só.

O irmão foi levado,por ser mais velho,para a casa masculina.

As outras...eram 3 irmãs...mais 2 irmãs...primas...eram na grande maioria parentes.Que nunca mais viram os pais e nem nenhum outro parentes e passaram a ser responsabilidade do estado.

Acredito que poucas pessoas saibam dessas casas.Não são asilos.

Lá após uma avaliação judicial... quem quiser pode virar "padrinho preferencial",passando a ter o direito de levar a criança para casa nos finais de semana...em datas festivas.Assim eles não perdem a noção do que é viver em família.

Por hora serei a "madrinha preferencial" de minha menina.

Entrar na casa foi fácil..eu não imaginava o que aconteceria lá dentro,mas sair...foi complicado demais.

Eu não tinha coragem de deixar aqueles anjos,que se acercaram de mim.Todos passaram por meus braços.Todos queriam um carinho de mãe.Mas minha menina...de cantinho...morria de cíumes,queria a atenção toda para ela.Tive que explicar detalhadamente que ela tinha que me dividir com as outras crianças e ela acabou por entender.

Bom seria,se algumas pessoas se interessassem por essas visitas em suas cidades.Fossem até essas crianças dar um pouco de carinho.

Não perderiam nada,muito pelo contrário...ganhariam muito.

Quando consegui sair,tive que esconder as lágrimas(óculos escuros são ótimos) e seguir adiante.Mas não sem antes prometer a cada uma delas,inclusive para as mais velhas;que na próxima semana,estarei lá novamente para visitá-las.

Na rua...agradeci a Deus...por passar por tanto,mas nunca ter pensado em abandonar meus filhos.

Queria ter poder...para trazer todos comigo;pois cada um deles ficou com um pedaçinho de mim.

MAS EU NÃO TROUXE UM PEDAÇINHO SOMENTE...EU OS TROUXE INTEIROS...NO MEU CORAÇÃO ELES PARA SEMPRE FICARÃO.