OBSERVAÇÃO

Olhei aquele senhor.

Caminhando pela rua da cidade.

Levava em suas mãos duas sacolas.

Pensei: “ele é daqui. Aqui é sua terra natal – a sua referência.”

Caminhava, a meu ver, para sua casa.

Tem sido interessante fazer essas observações.

Vejo que as pessoas que tem o seu lugar, sua terra.

Tem uma identificação.

Sabe de onde é.

Tem como, e, pra onde voltar.

Fincado em seu torrão natal.

São felizes com o que são e com o que tem.

Há uma identificação com suas raízes.

Sabe que se um dia sair de sua terra,

Mesmo que seja só por um instante.

Voltará ao seu destino,

Certo de que tem quem o espere.

Ser esperado é a certeza de ser amado.

Saber que há alguém preparando a nossa chegada,

Faz-nos acreditar no amor.

Eu tenho uma terra onde nasci.

Mas não tenho uma referência lá,

Porque não criei raízes.

Eu tenho gente que me conhece lá.

Mas não sei se sou esperado porque sou amado por eles.

Ou apenas porque tem curiosidade de me vir.

E, eu, sou do mundo, diria.

Não sou de ninguém.

A prova disso é que nunca tive uma morada exclusivamente minha.

Nada do que julguei ser meu,

Nunca me pertenceu.

Até mesmo em pequenas coisas,

Mesmo quando eu julguei que tinha alguém,

Uma palavra cruzada ou um celular,

Era mais importante pra esse alguém.

Quando tomavam o tempo que eu julgava ser meu.

Desculpe-me, divaguei.

Mas, olhando a cidade, tão simples, tão singela.

Vejo as pessoas que passam.

Elas são felizes aqui.

Pois o ali é só uma viagem,

Independentemente da duração.

E, quando a viagem terminar.

È no aqui que eles voltarão.

Para continuar a ser felizes

Mesmo que tenham outros “alis”.

Pois é no aqui que eles são felizes.

E, eu?

Bem, sou um nômade.

Não tenho um lugar certo para me fixar.

Nem um lugar em que possa reclinar minha cabeça.

Sou do mundo.

Nesse sentido qualquer lugar é meu lugar.

Sou de ninguém.

Nesse sentido sou de todos.

E vivo em qualquer lugar.

Até que um dia eu possa ter o meu.

Nem que seja no cemitério.

Deixe de ser do mundo.

E seja só de uma pessoa.

As pessoas continuam indo e vindo na cidade.

Eu continuo aqui observando, vendo, contemplando.

Parei de escrever.

Tucano, 10.07.09